REPORTAGEM: Barragem da Bravura inicia obras para impedir desperdício de água



A barragem da Bravura, no Algarve, vai iniciar nas próximas semanas obras de modernização para impedir as atuais fugas de água, o que vai permitir melhorar o abastecimento e contrariar a escassez do precioso líquido.

As obras deverão começar ainda no primeiro semestre de 2025, depois de na passada semana ter sido encerrado o concurso público para a empreitada, que prevê um primeiro investimento de 11,2 milhões de euros até 2026.

“É uma obra no valor de 11 milhões e 200 mil euros, mais IVA, e é suportada pelos fundos do PRR [Plano de recuperação e Resiliência]. Portanto, é uma obra que irá começar, […] ainda neste primeiro semestre do ano, e que terá a sua conclusão no decorrer do ano de 2026”, disse à agência Lusa António Marreiros, presidente da Associação de Regantes e Beneficiários do Alvor (ARBA).

A barragem da Bravura, a segunda em Portugal com a menor percentagem da sua capacidade preenchida, tinha no início desta semana apenas 17% da sua capacidade total, ou seja, 5.819 dos 34.825 decâmetros cúbicos de limite máximo, segundo o boletim semanal da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sobre as disponibilidades hídricas das barragens portuguesas.

Também conhecida como a barragem de Odiáxere, a estrutura localiza-se em Lagos, no distrito de Faro, tendo sido projetada em 1955 e entrado em funcionamento em 1958.

O projeto para modernizar o perímetro de rega de Alvor vai ter duas fases, a primeira delas irá começar depois de escolhida a empresa que irá construir uma estação elevatória e outra de filtragem, com um reservatório com capacidade de água armazenada para dois dias, assim como um troço da futura conduta principal.

Esta primeira fase estará concluída em 2026 e no mesmo ano terá início uma segunda fase, cujo montante de financiamento ainda não está definido, que prevê a pressurização de todo o perímetro de rega.

“Sim, estamos sempre dependentes da chuva, mas a gestão da água e a poupança da água vai ser totalmente diferente. Com o perímetro modernizado, com a pressurização, vamos eliminar as fugas, as perdas de água, em mais de 90%”, assegurou António Marreiros.

Segundo aquele responsável, em 2024, foi possível fornecer alguma água aos agricultores, mas não era todos os dias: “Foi por fases, semana sim, semana não, mas tínhamos que manter o canal em carga, caso contrário teríamos de estar a perder mais água”.

“Nós necessitamos, para ter alguma água disponível para os agricultores, que se atinjam os oito [mil decâmetros cúbicos]. Ainda estamos um pouco aquém, de acordo com o nosso plano de contingência, para que se possa fornecer água aos agricultores”, frisou.

António Marreiros relembrou que, devido à situação de seca, nos últimos dois anos a água da barragem esteve em níveis muito baixos e só foi para abastecimento público: “Os nossos agricultores estiveram dois anos sem água para fazer as culturas, quer da época, quer para as culturas permanentes”.

A ARBA, que tem cerca de 900 beneficiários com 1.800 hectares de superfície, tem com o Estado um contrato para fazer a gestão, a manutenção e a distribuição de água da barragem da Bravura até 2031.

“No momento em que estamos, é quase um crime desperdiçar-se água. Os investimentos vão ser muito benéficos. Ainda mais que a água da nossa barragem, que foi feita para fins agrícolas, neste momento também abastece a parte pública toda, o abastecimento público que é fundamental também na região”, afirmou, por seu turno, João Mendes, proprietário e agricultor grande beneficiário do sistema de rega de Alvor.

A barragem foi inicialmente construída para fins agrícolas, mas neste momento também serve as necessidades de consumo público, o que inclui o setor do turismo, onde estão os grandes aldeamentos hoteleiros e os campos de golfe.

“O que é facto é que de há 30 anos para cá o consumo duplicou. A população do Algarve se calhar não chegava aos 400 mil e eu penso neste momento anda nos 600, 700 mil. E outra situação, antigamente os empreendimentos turísticos que havia eram menos de 100, e agora […] são milhares”, alertou o agricultor.

O Algarve atravessa uma situação de seca, mas atualmente, depois das chuvas que têm caído desde novembro passado, já consegue ter água nas suas seis barragens que podem fornecer todo o tipo de consumidores durante mais de um ano.





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