Humanos já faziam ferramentas a partir de ossos de animais há 1,5 milhões de anos

Nova investigação revela que há 1,5 milhões de anos os humanos ancestrais já esculpiam habitualmente ossos de animais para transformá-los em ferramentas, um milhão de anos antes do que se pensava.
A conclusão é de uma investigação internacional que reuniu cientistas de Espanha, de França, dos Estados Unidos da América e Reino Unido e foi liderada pela Conselho Superior de Investigações Científicas, organismo do ministério espanhol da Ciência, Inovação e Ensino Superior. As descobertas foram publicadas esta semana na revista ‘Nature’.
A recolha de vestígios de ossos de animais (elefantes e hipopótamos sobretudo) com sinais de manipulação humana na Garganta de Olduvai, na Tanzânia, considerada um dos locais mais importantes para o estudo das origens da humanidade e que foi habitada por um grupo de humanos ancestrais desde há 2,6 milhões de anos até há 1,5 milhões de anos, apontam que a produção de ferramentas de osso é muito mais antiga do que, até agora, nos dizia o conhecimento científico.
“Esta descoberta sugere que os primeiros humanos expandiram significativamente as suas opções tecnológicas, até então limitadas à produção de ferramentas de pedra, e permitiram agora incorporar novas matérias-primas no repertório de potenciais artefactos”, explica, em comunicado, Ignacio de la Torre, primeiro autor do artigo.
Os vestígios ósseos não apresentam sinais de erosão por fatores ambientais nem marcas de animais, pelo que os autores excluem que tenham sido feitas de outra forma que não pela mão dos humanos antigos.
“Esta expansão do potencial tecnológico indica avanços nas capacidades cognitivas e nas estruturas mentais destes homininos (hominídeos com locomoção bípede), que foram capazes de incorporar inovações técnicas, adaptando o seu conhecimento do trabalho da pedra à manipulação de restos ósseos”, salienta o investigador.
Embora durante centenas de milhões de anos tenham partilhado as savanas africanas com animais que representavam uma ameaça (como predadores tais como aves de rapina e grandes felídeos), com os quais competiam por cadáveres de presas (como hienas e abutres) e que eram fontes de alimento, os humanos há 1,5 milhões de anos também tinham nos animais uma fonte de matérias-primas para fazer ferramentas.
Na África oriental estão os vestígios mais antigos do uso de ferramentas pelos primeiros humanos do género Homo, sendo a cultura olduvaiense a mais famosa, cujo traço mais distintivo era a capacidade para produzir lascas de pedra através da percussão e, a partir delas, fazer ferramentas. Essa tecnologia marcou a transição da cultura olduvaiense para a cultura achelense, que se estendeu desde há 1,7 milhões de anos até há 150 mil anos.
A descoberta de ferramentas de osso em sítios atribuídos à cultura olduvaiense representa uma ligação perdida na transição para a achelense. “Até à nossa descoberta, a transição da cultura olduvaiense para a achelense conhecia-se quase exclusivamente pelos artefactos de pedra”, afirma de la Torre.