Aumento das ondas de calor marinhas ameaça biodiversidade e causa perdas de milhares de milhões

Em 2023 e 2024, os oceanos do mundo sofreram 3,5 vezes mais dias de ondas de calor marinhas durante o verão do que em qualquer outro de que há registo.
Publicado recentemente na revista ‘Nature Climate Change’, um estudo liderado pela organização científica Marine Biological Association, no Reino Unido, e que reuniu cientistas de vários outros países, revela que o aumento da frequência das ondas de calor marinhas foi causado pelos efeitos das alterações climáticas e intensificado pelo fenómeno climático El Niño.
Além das ameaças à biodiversidade marinha, os investigadores destacam que as ondas de calor marinhas, nesses dois anos, geraram perdas de milhares de milhões de dólares em todo o mundo. Fonte de alimento e de emprego para inúmeras pessoas, a intensificação desses fenómenos põe em risco essas funções.
Em comunicado, a Marine Biological Association recorda que, entre 2023 e 2024, as ondas de calor marinhas causaram fortes perturbações, por exemplo, nos setores da pesca e da aquacultura, levaram ao aumento dos arrojamentos de baleias e golfinhos e foram a causa do quarto maior evento global de branqueamento de corais de sempre. Além dos impactos no oceano, as ondas de calor marinhas fizeram-se também sentir em terra, com ondas de calor atmosféricas sem precedentes e fatais e cheias.
Este estudo descobriu que cerca de 10% dos oceanos a nível mundial registaram temperaturas máximas recorde nesse período, e tudo indica que o futuro, com o agravamento das alterações climáticas, reserva ondas de calor marinhas cada vez mais intensas. Por isso, os autores do artigo apelam à ação para implementar medidas que permitam mitigar os danos causados pelo aquecimento dos oceanos.
“Quanto maior for a regularidade com que os nossos ecossistemas marinhos forem atingidos por ondas de calor marinhas, mais difícil será a sua recuperação de cada evento”, avisa Kathryn Smith, primeira autora.
“À medida que as ondas de calor marinhas continuam a aumentar, mais provável será vermos uma maior perda de espécies e ecossistemas marinhos a nível global”, acrescenta.
Os investigadores dizem que capacidades robustas de previsão de ondas de calor marinhas e de ação para mitigar os seus efeitos são fundamentais, tendo já demonstrado a sua importância em algumas regiões. Na Austrália, por exemplo, os conservacionistas, em preparação para a chegada de uma onda de calor marinha, resgataram parte de populações de espécies ameaçadas de peixes e colocaram-nos em aquários, sendo que depois do evento terminar devolveram-nos ao mar.
Mas a preparação tem os seus limites, e a forma mais eficaz de travar as ondas de calor marinhas e de mitigar os seus impactos é acabar com o consumo de combustíveis fósseis.
De acordo com a investigação, se se mantiverem os níveis de emissões de gases com efeito de estufa e de desflorestação, as ondas de calor marinhas poderão ser entre 20 e 50 vezes mais frequentes e até 10 vezes mais intensas até ao final do século.
“Em última análise, para evitar que o agravamento das ondas de calor marinhas e dos seus impactos, temos de reduzir/parar o nosso uso de combustíveis fósseis”, afirma Smith. Enquanto isso não acontece, sublinha a investigadora, “a preparação para as ondas de calor marinhas e intervenções para reduzir a perda de espécies têm revelado algumas histórias de sucesso, mas não são soluções permanentes”.