Estudar a história do oxigénio nos oceanos para ajudar a preparar para o futuro



O oxigénio é a fonte de grande parte da vida no planeta, não só em terra firme, mas também nos mares e oceanos. Mas as previsões climáticas alertam para uma diminuição dos níveis de oxigénio dissolvido na água à medida que a Terra se torna mais quente.

As alterações climáticas provocadas pela ação humana estão a precipitar uma série de transformações convulsas um pouco por todo o lado, muitas das quais com consequências difíceis, senão mesmo impossíveis, de prever com certeza. Mas, ao longo da sua história, a Terra enfrentou condições ainda mais extremas e duras do que as que hoje vivemos, e saber como os oceanos reagiram é fundamental para se poder tentar antever o que nos espera.

E saber como podem evoluir os níveis de oxigénio marinho num planeta em aquecimento é central para desenhar estratégias e ações mais robustas e eficazes que permitam, pelo menos, atenuar os seus efeitos, uma vez que a queda de oxigénio dissolvido nos mares e oceanos pode levar à extinção massiva de espécies e ao colapso de ecossistemas, e a um rol de repercussões que inevitavelmente atingirão as sociedades humanas.

Uma equipa internacional de cientistas, que inclui Giulia Molina e Lélia Matos, investigadoras do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR), quer criar um registo integrado e global da história do oxigénio marinho em diferentes condições climáticas. Com esses dados, será possível melhorar modelos de previsão futura e prever impactos nos ecossistemas, permitindo o desenvolvimento de soluções mais eficazes.

Como não é possível recuar no tempo para medir o oxigénio presente nos mares e oceanos de há milhares de anos, os cientistas recorrem ao que chamam de “proxies”, indicadores indiretos que ajudam a perceber a evolução das concentrações de oxigénio marinho ao longo da história geológica. Esses “proxies” podem ser geoquímicos, como isótopos de carbono, ou biológicos, como fósseis de microrganismos.

Num artigo publicado na revista ‘Biogeosciences’, os investigadores fazem uma revisão e síntese dos proxies atualmente usados para olhar para o passado dos oceanos da Terra, com o objetivo de “fornecer uma visão geral do uso desses indicadores, apresentando descrições detalhadas, análise do estado atual do conhecimento, suas vantagens, limitações e aplicabilidade na reconstrução dos níveis de oxigenação dos oceanos ao longo do tempo geológico”, explica, em comunicado, Lélia Matos.

Com base nesses “proxies”, os cientistas podem investigar como a concentração de oxigénio variou com as mudanças naturais e eventos extremos no passado, permitindo fazer projeções mais precisas sobre os desafios que os oceanos enfrentam hoje. Os investigadores acreditam que o uso desses indicadores indiretos é essencial não só para compreender o passado, mas para agir no presente a fim de garantir um futuro sustentável para a vida marinha e um equilíbrio climático global.

Contudo, ainda que o estudo dos “proxies” tenha evoluído bastante nas últimas décadas, os investigadores dizem que há ainda algumas arestas a limar, sobretudo no que toca à precisão da informação que deles se consegue extrair e há padronização dos métodos usados pelos cientistas para reconstruir as condições marinhas do passado distante.

Por isso, defendem que a continuação da investigação nesse campo ajudará a compreender melhor as mudanças passadas na oxigenação dos oceanos e os seus impactos nos ecossistemas marinhos e, assim se espera, a prever o futuro num planeta em crise.





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