Pelo menos 10 mil famílias no norte de Moçambique afetadas pelo ciclone Jude

Pelo menos 10 mil famílias ficaram afetadas e 12 escolas destruídas com a passagem do ciclone tropical Jude nos distritos de Mossuril e Ilha de Moçambique, na província de Nampula, norte do país, anunciaram ontem fontes oficiais.
“Neste momento temos pelo menos 10 mil famílias que já estão afetadas na Ilha de Moçambique, temos 12 escolas que foram severamente destruídas e dois centros de saúde afetados”, disse Júnior Santos, secretário permanente da Ilha de Moçambique, na província de Nampula, em declarações à comunicação social.
O responsável classificou como “caótica e crítica” a passagem do ciclone Jude hoje na Ilha de Moçambique, destruindo várias infraestruturas, incluindo a rede de distribuição de água.
Também no distrito de Mossuril, pelo menos 180 famílias ficaram afetadas com a passagem do ciclone, tendo sido criado um centro de acolhimento que já conta com pelo menos 70 pessoas, segundo dados avançados à comunicação social pelo administrador do distrito, Alfredo Machaieie.
As Nações Unidas anunciaram a alocação de um fundo de emergência de 5,5 milhões de euros para apoiar as vítimas do ciclone tropical Jude, que atingiu o país na madrugada de hoje, anunciou fonte oficial.
Numa nota divulgada hoje na página da Organização das Nações Unidas (ONU), que cita o chefe de comunicação e parcerias do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Guy Taylor, os 6 milhões de dólares (5,5 milhões de euros) são alocados para ajuda humanitária às vítimas do ciclone através do Fundo Central de Resposta a Emergências.
O ciclone tropical Jude entrou na madrugada de hoje em Moçambique, através do distrito de Mossuril, em Nampula, com ventos de 140 quilómetros por hora e rajadas até 195 quilómetros por hora, disse à Lusa Manuel Francisco, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inam) de Moçambique.
“Logo após a entrada, ele [o ciclone] voltou ao estágio de tempestade tropical severa e nos próximos dois dias poderá variar entre tempestade moderada e severa”, disse o meteorologista, acrescentando que o sistema poderá ainda causar chuvas intensas até 250 milímetros em 24 horas.
A intempérie está a afetar as três províncias do norte de Moçambique, nomeadamente Nampula, Niassa e Cabo Delgado, podendo sair, a partir da noite de hoje, para o centro de Moçambique, condicionando o tempo nas províncias da Zambézia, Tete, Sofala e Manica, acrescentou Manuel Francisco.
O Inam apela à tomada de medidas de precaução e segurança face ao mau tempo.
O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) avançou, no domingo, que o novo ciclone pode afetar um total de 341 mil pessoas, referindo que foram ativados os comités operativos de emergência e que o Governo moçambicano e parceiros se reuniram para fazerem o levantamento de todos os recursos disponíveis de assistência aos afetados.
Moçambique está em plena época chuvosa, que decorre entre outubro e abril, período em que foram já registados os ciclones Chido e Dikeledi, que afetaram igualmente o norte do país.
Os ciclones atingiram Moçambique entre dezembro do ano passado e janeiro último, com maior impacto nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, tendo afetado cerca de 736.000 pessoas e causado a destruição de infraestruturas públicas e privadas.
Eventos extremos, como ciclones e tempestades, provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) noticiados anteriormente pela Lusa.
O país africano é considerado um dos mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.