Investigadores do CIIMAR usam “código de barras genético” para identificar espécies de abelhas no bioma da Caatinga



Os polinizadores, especialmente as abelhas, são cruciais para a manutenção dos ecossistemas, e desempenham também um papel fundamental na reprodução das plantas.

Dessa forma, parte da alimentação humana depende, em certa medida, da polinização feita por abelhas e outros insetos, um grupo de animais que têm sofrido grandes perdas populacionais devido à poluição, ao uso de pesticidas, à agricultura intensiva e de monoculturas, à falta de água, ao desmatamento e às alterações climáticas.

Como tal, estudar a diversidade de polinizadores é crucial para que se possa realmente proteger essas pequenas criaturas muitas vezes marginalizadas na ciência e ignoradas ou mesmo mal-amadas pela população em geral.

Segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), mais de 75% da produção mundial de frutos e sementes para consumo humano depende da polinização.

Um estudo de investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), da Universidade do Porto, e publicado na revista ‘Molecular Biology Reports’, desenvolveu e aprimorou ferramentas para identificação de espécies de abelhas, agora disponíveis globalmente.

Em comunicado, a instituição de ensino aponta que este estudo focou-se no bioma da Caatinga, altamente especializado e exclusivo do Brasil, ocupando uma área de 826.411km2 e apresentado uma flora e fauna ricas em endemismos. Ao complementar a identificação morfológica tradicional com técnicas de biologia molecular e “barcoding”, que usam o “código de barras de ADN” destas espécies para identificá-las, o estudo permitiu ampliar o conhecimento das espécies de abelhas neste habitat.

Este estudo permitiu a identificação de mais 75 espécies e de nove géneros em relação à última descrição para este bioma, há cerca de 25 anos, apresentando um avanço significativo. No entanto, a equipa alerta que estes resultados podem ainda não refletir “a total biodiversidade que pode ser encontrada” e evidencia que há necessidade de novos esforços que nos permitam catalogar a riqueza existente.

A utilização destas técnicas de “barcoding” podem ser ferramentas poderosas na conservação do bioma da Caatinga, permitindo fazer uma identificação de espécies presentes, estejam elas descritas ou não. Depois de ter permitido ampliar o conhecimento sobre as espécies deste local, os recursos gerados no âmbito deste trabalho podem também servir de base para as investigações que lá se realizam.

Segundo Cláudia Teixeira, autora deste estudo, “além de trazer novidade sobre o estado atual dos ecossistemas, a ferramenta é facilmente reproduzida, fornecendo a qualquer investigador uma base sólida em futuras investigações para compreender a biodiversidade local.”

De acordo com a investigadora, o impacto deste conhecimento é, porém, muito mais alargado.

“A identificação de espécies e monitorização pode também ser bastante útil para entender tendências de declínio, ou aumento das populações de abelhas”, sobretudo no contexto de um clima em mudança.

“Ao identificar e catalogar espécies de insetos polinizadores, como as abelhas, que têm papéis tão fulcrais na polinização, este trabalho visa também ressaltar a importância destas espécies para os ecossistemas, e os serviços dos ecossistemas que beneficiam a sociedade, como a produção de alimentos, manutenção e diversidade de vegetação, com impactos diretos na economia”, acrescenta Cláudia Teixeira.

Assim, os investigadores acreditam que este trabalho contribui não só para a conservação, mas também para uma consciencialização sobre o papel dos polinizadores.






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