“Não me comas, sou venenosa”: Lesmas-do-mar usam as suas cores berrantes para afastarem predadores

As cores são uma forma de comunicação fundamental para muitos animais. Anunciam o seu vigor sexual, publicitam a sua boa saúde física e servem para afastar predadores, avisando que o animal que as enverga é tóxico, mesmo que em alguns casos na verdade não é seja.
As lesmas-do-mar, invertebrados marinhos semelhantes às lesmas terrestes cujas guelras estão no exterior dos seus corpos (por isso, são conhecidos como nudibrânquios), usam cores berrantes para evitar serem devoradas por predadores. Mas esse mecanismo só é realmente eficaz se houver luz suficiente para que as suas tonalidades fortes sejam bem visíveis.
Uma equipa de investigadores da Austrália e dos Estados Unidos da América descobriu que as lesmas-do-mar mais coloridas e com mais padrões, e por isso mais conspícuas, em vez de se esconderem dos predadores e estarem mais ativas durante a noite, estão mais ativas durante o dia para poderem ser vistas por aqueles que as querem comer.
O trabalho passou pelo estudo de 45 espécies de lesmas-do-mar da costa leste da Austrália e permitiu perceber que a luz do dia é crucial para aumentar a capacidade desses animais para afastarem os predadores.
“As lesmas-do-mar usam padrões de cores brilhantes e contrastantes para enviarem mensagens aos predadores como ‘Não me comas, sou venenosa’”, explica, em comunicado, Cedric van den Berg, da Universidade de Queensland (Austrália) e primeiro autor do artigo divulgado esta semana na revista ‘Journal of Animal Ecology’.
De acordo com o investigador, as lesmas-do-mar ao invés de optarem pela timidez e tentarem passar despercebidas, anunciam ao mundo que possuem químicos tóxicos ou que estão armadas com células urticantes. Se não o fizessem, mesmo que equipadas com armas venenosas que podem prejudicar o predador, poderiam, ainda assim, estar sujeitas a feridas potencialmente fatais antes de o predador perceber que o melhor seria procurar outro alimento.
Cedric van den Berg diz que, embora se pensasse que a luz solar é um fundamental para que dissuasores como a cor pudessem ser realmente eficazes, “há surpreendentemente poucas provas para apoiar essa suposição”. Até agora.
Por outro lado, as lesmas-do-mar que estão mais ativas quando o sol se põe tendem a não ter cores tão exuberantes, uma vez que é pouco provável que os seus predadores usem a visão para caçar.
“Esperamos que este trabalho conduza a mais investigação sobre a ecologia e a evolução da coloração defensiva dos animais, particularmente das espécies marinhas”, observa o biólogo.