Falta rede de segurança para nova economia energética

A transição energética continua a precisar de investimento em petróleo e gás, segundo um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos que alerta para a falta de rede de segurança para a nova economia energética.
O petróleo e o gás natural representam atualmente 55% do fornecimento mundial de energia, o que torna importante a continuidade do investimento nesta área, tendo em conta que as possibilidades de sucesso da transição energética dependem da manutenção do acesso à energia a preços acessíveis, segundo o estudo “A transição energética da Europa: equilibrar o trilema”, realizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos em parceria com a Brookings Institution, um dos principais ‘think tanks’ do mundo.
De acordo com o mesmo documento, que se centra na transição energética na Europa em tempos de crise e conflitos e no desafio de garantir a segurança energética europeia, “os alicerces sólidos da transição energética devem consistir sobretudo numa gestão coordenada da oferta e da procura, e não tanto na limitação da oferta de combustíveis fósseis”.
O relatório divulgado hoje, que faz parte de uma série de seis artigos que compõem o estudo completo a serem publicados até ao final de 2025, aponta ainda que a transição para energias limpas traz riscos e vulnerabilidades próprios, mas também pode reduzir dependências geopolíticas que durante décadas causaram tensão, como a ameaça de falhas no fornecimento de petróleo.
Além disso, alerta para a falta de rede de segurança no novo cenário energético baseado em energia renovável.
“Durante anos, organizações como a Agência Internacional de Energia (AIE) criaram reservas estratégicas e planos de resposta a crises. Mas, para a nova economia energética — baseada em tecnologias limpas —, ainda não existe uma rede de segurança semelhante”, referem.
Os autores do estudo avisam que se houver “escassez de minerais ou equipamentos essenciais (como painéis solares), o impacto pode não ser imediato como no caso do petróleo, mas pode travar o ritmo da transição energética e desincentivar investimentos. Acautelar essas falhas será crucial para garantir que a transição decorre de forma segura, acessível e sustentável”, acrescentam.
Além disso, concluem que o grau de globalização do sistema energético vai ser essencial para ditar o ritmo da transição energética e das suas consequências geopolíticas e dependerá de decisões estratégicas dos principais blocos económicos.
“Se EUA e Europa apostarem mais em produzir localmente e em relações com países aliados, isso pode aumentar os custos e abrandar a mudança”, apontam.
Já a China, líder na produção de painéis solares e minerais críticos, tem poder para influenciar este processo a seu favor — o que, alertam os autores, levanta preocupações sobre dependência e segurança económica.
O relatório conclui ainda que, mesmo nos países ricos, o acesso à energia sobrepõe-se às preocupações de sustentabilidade.
“No ‘trilema’ da transição energética — otimizar a segurança do aprovisionamento, o preço e a sustentabilidade ambiental —, em tempos difíceis, a sustentabilidade passa muitas vezes para segundo plano”, lê-se no mesmo relatório.
Os autores destacam ainda que as grandes variações nos preços da energia não só afetam negativamente os consumidores e as empresas como também diminuem a confiança nos governantes eleitos e as respetivas taxas de aprovação.
“Nenhum governo que queira combater as alterações climáticas conseguirá manter-se tempo suficiente no poder caso a população considere que não esteja a garantir, no imediato, o fornecimento seguro de energia a preços acessíveis. Idealmente, uma abordagem consensual que incorpore todo o espetro político resultaria num ambiente de políticas estáveis, capaz de promover o investimento em energias mais limpas”, concluem.