Grandes empresas mundiais dos laticínios falharam no corte de metano



As grandes empresas mundiais do setor dos laticínios falharam na redução das emissões de metano, indica uma auditoria hoje divulgada que mostra uma falta generalizada de objetivos, de planos e de transparência.

A avaliação, a que a Lusa teve acesso, mostrou que alguns dos maiores fabricantes e utilizadores de produtos lácteos do mundo não estão a conseguir reduzir o metano, um poderoso gás com efeito de estufa, e indicou que só a multinacional Danone tem um objetivo significativo.

A análise, da organização sem fins lucrativos “Changing Markets Foundation”, mostra também que os membros da “Dairy Methane Action Aliance” (DMAA), uma aliança lançada na cimeira do clima realizada no Dubai (COP28) há dois anos, fazem uma diferença marginal em relação aos que não são membros.

Os membros da DMAA obtiveram uma pontuação um pouco mais elevada do que os não-membros em todas as principais áreas do inquérito, especialmente as empresas europeias. Mas apenas três das oito empresas da DMAA publicaram objetivos para reduzir as emissões de metano.

O metano é um dos principais fatores de aquecimento do planeta, sendo 80 vezes mais potente do que o dióxido de carbono, embora tenha uma vida mais curta. A redução do gás é vista como uma forma rápida para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, conforme preconizado no Acordo de Paris, em 2015.

A pecuária é a maior fonte de emissões geradas pela atividade humana, com cerca de 8% de emissões provenientes apenas dos laticínios.

A “Changing Markets Foundation” avaliou 20 grandes marcas de produtos lácteos e cadeias de cafetarias, que são grandes consumidores de produtos lácteos.

E os resultados, concluiu, “são claros”. Embora quase todas as empresas tenham admitido que o metano, ou o gado bovino, são um problema climático, só duas empresas disseram que tinham de facto reduzido as emissões.

A maioria não tem objetivos claros relacionados com o metano, planos de ação credíveis ou mesmo transparência básica sobre as emissões.

Nenhuma das empresas que dominam os mercados europeu e norte-americano, e que em conjunto arrecadam mais de 420 mil milhões de dólares por ano, se compromete a reduzir as vendas de produtos lácteos. Numa avaliação até 100 pontos quase todas (18 das 20) obtiveram menos de metade dos pontos. Apenas seis disseram que controlam diretamente as suas emissões de metano e só quatro as divulgam.

As cadeias de cafetarias estão entre as piores empresas em termos de inação quanto ao metano. (Estimativas indicam que só a Starbucks usa nos Estados Unidos cerca de 750 milhões de litros de leite por ano).

A Danone ficou no topo da tabela, mas só com 59 pontos em 100. Foi a única empresa com um objetivo específico para o metano e um plano para o atingir. A maioria das outras analisadas não tinha nem um objetivo nem um plano.

No documento lembra-se que na conferência da ONU sobre o clima na Escócia, em Glasgow (COP26, em 2021), 150 governos assinaram um compromisso global de redução das emissões de metano até 2030, sendo a agricultura uma das principais prioridades.

A “Changing Markets Foundation” considera que o compromisso pode não atingir o objetivo, a não ser que o setor dos laticínios leve a sério a redução do metano.

A organização culpa os “poderosos interesses” do setor da carne e dos laticínios nos Estados Unidos e na Europa de bloquearem ou enfraquecerem os esforços para regular o metano agrícola.

A “Changing Markets Foundation” é uma organização sem fins lucrativos, com sede nos Países Baixos, que expõe práticas empresariais irresponsáveis e promove mudanças sustentáveis no mercado.






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