A língua é uma barreira no trabalho sobre a biodiversidade

Um estudo da Universidade de Queensland revelou que o conhecimento científico sobre a conservação de espécies ameaçadas de extinção é frequentemente ignorado quando não é apresentado em inglês.
A candidata a doutoramento Kelsey Hannah analisou artigos sobre a proteção e gestão de aves, mamíferos e anfíbios e comparou a frequência com que os artigos em inglês e noutras 16 línguas foram citados em trabalhos posteriores.
“Os 500 artigos do meu estudo foram publicados em revistas especializadas e estão disponíveis internacionalmente para as pessoas que trabalham no domínio da conservação”, afirma Kelsey Hannah, sublinhando que, “em geral, os artigos em língua não inglesa tiveram significativamente menos citações”.
“Os artigos em língua inglesa tiveram uma mediana de 37 citações, enquanto os artigos em língua não inglesa tiveram uma mediana de zero”, acrescenta.
Hannah revela que o número de citações se manteve inalterado independentemente da robustez do desenho do estudo ou mesmo do estado de conservação das espécies estudadas.
“Isto sugere que a razão pela qual este trabalho não está a ser notado é a falta de visibilidade ou a falta de esforço de pesquisa devido às barreiras linguísticas”, explica.
“Uma coisa que fez a diferença para os artigos em língua não inglesa foi fornecer um resumo em inglês – esses artigos tiveram 1,5 vezes mais citações”, adianta.
A análise mostrou que muitos estudos em línguas não inglesas tinham um elevado número de citações na sua própria língua, mas as citações entre línguas eram muito baixas.
“Um estudo japonês sobre a cegonha-oriental em 2011, por exemplo, só tinha citações em japonês, apesar de a espécie também estar ameaçada na China, na Coreia e na Rússia”, afirma Hannah.
“Isto significa que trabalhos oportunos e relevantes podem não estar a ser vistos pelas pessoas que os podem utilizar para compreender e enfrentar os desafios de conservação de muitas espécies”, conclui.
O Professor Associado Tatsuya Amano, da Escola do Ambiente da UQ, afirma que é crucial que a língua não seja uma barreira na abordagem da atual crise global da biodiversidade.
“Grande parte da biodiversidade mundial encontra-se em zonas onde o inglês não é a língua principal”, revela.
“Se estivermos a perder informação dessas regiões e não tomarmos decisões com base nessa experiência, os esforços de conservação poderão ter menos impacto”, avisa.
“Incentivamos os investigadores a refletir sobre a acessibilidade do seu trabalho e a considerar a possibilidade de fornecer resumos multilingues”, sublinha.
“É importante que os cientistas de língua inglesa se lembrem de olhar para além dos estudos em língua inglesa quando realizam investigação para obter uma perspetiva mais ampla”, conclui.
A investigação foi publicada na Conservation Biology.