Argamassas que respiram: como a Topeca está a refazer as fundações da construção sustentável em Portugal

Quando, a 29 de janeiro, a gama Kaltech da Topeca foi eleita “Escolha Sustentável 2025”, o selo funcionou como megafone para uma mudança que já germinava na fábrica de Cercal, Ourém. Fundada em 1992, a empresa portuguesa coloca a sustentabilidade no centro da inovação; o prémio veio legitimar a estratégia e “catalisar novas ideias”, contam as equipas, que viram propostas internas multiplicarem-se e parceiros externos aparecerem em busca de soluções de baixo impacto.
A química do prémio
O galardão distingue a Kaltech, família de argamassas formuladas exclusivamente com cal hidráulica natural (NHL). O calcário é cozido a 950 – 1200 °C — muito abaixo dos 1450 °C exigidos para clinker de cimento Portland — reduzindo energia e emissões logo na origem; depois, durante décadas, a argamassa recarbonata e re-absorve CO₂ atmosférico. Estudos recentes relatam reduções até 64 % no carbono incorporado quando comparada com ligantes convencionais, garantindo uma pegada notavelmente menor.
Medir para gerir
Para transformar narrativas em confiança, a Topeca recorre a análises de ciclo de vida. Entre as métricas-chave monitoriza emissões evitadas, circularidade de materiais — já acima de 80 % — e valor social gerado em formação técnica. Em 2024, a substituição de ligantes tradicionais por soluções Kaltech evitou cerca de 1 800 t de CO₂ equivalentes, número certificado externamente.
Três eixos para multiplicar o impacto
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Inovação – novas formulações de baixa densidade com agregados reciclados e sensores IoT capazes de monitorizar a cura in situ e evitar retrabalhos.
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Escalabilidade – levar as misturas de cal hidráulica das séries-piloto às linhas de alto débito, para que a sustentabilidade deixe de ser nicho.
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Colaboração – consórcios com fabricantes de isolamento e madeira engenheirada, criando sistemas construtivos de balanço de carbono negativo.
Os maiores desafios continuam a ser a descarbonização das cadeias de fornecimento e a pressão por resultados imediatos num sector avesso a mudanças rápidas.
A fábrica a descarbonizar a própria fábrica
A transição começa em casa: em 2021 painéis fotovoltaicos passaram a gerar cerca de 50 % da electricidade da unidade fabril, poupando anualmente perto de 120 t de CO₂. A Topeca foi também a primeira do sector a obter certificação ISO 9001 em Portugal e gere hoje mais de 110 000 referências, distribuídas por 12 categorias e exportadas para vários continentes — prova de que sustentabilidade e competitividade podem andar de mãos dadas.
Durabilidade e saúde do edifício
A NHL oferece permeabilidade ao vapor, compatibilidade com alvenarias antigas e uma durabilidade estimada entre 50 e 100 anos — o dobro de muitas argamassas cimentícias — prolongando a vida útil dos edifícios e melhorando a qualidade do ar interior, factor cada vez mais valorizado no pós-pandemia.
O próximo capítulo
De argamassas que “respiram” a paredes que ajudam a purificar casas inteiras, a Topeca demonstra que reinventar um material milenar continua a ser uma das vias mais eficazes para descarbonizar o edificado. O selo de 2025 colocou a Kaltech no radar; o desafio agora é transformar esta escolha sustentável em nova regra da construção portuguesa.