Cientistas revelam, pela primeira vez, a última refeição de um dinossauro saurópode

Uma investigação liderada pela Universidade de Curtin (Austrália) desvendou o conteúdo do estômago de um dinossauro fossilizado com 95 milhões de anos, a última refeição do animal antes de morrer.
De acordo com os cientistas, esta é a primeira vez que algo do género é feito e a descoberta permite desvendar os segredos dos hábitos alimentares dos saurópodes, conhecidos pelo seus longos pescoços e caudas, por se deslocarem em quatro patas, por serem herbívoros e por serem dos maiores animais terrestres que já existiram na Terra.
Num artigo publicado recentemente na revista ‘Current Biology’, os cientistas explicam que o fóssil se trata de um saurópode da espécie Diamantinasaurus matildae, um espécime que batizaram com o nome “Judy” e que viveu durante o Período Cretácico.
Naquilo que outrora fora o estômago de “Judy”, foram encontrados, através de técnicas avançadas de geoquímica, vestígios de árvores coníferas, estruturas de fetos que continham as células sexuais da planta (os fetos reproduzem pela dispersão de esporos e não de sementes) e também folhas de plantas com flor. Para a equipa, isto não apenas deixa claro que os saurópodes eram, de facto, herbívoros, algo de que já se suspeitava com base em traços morfológicos e anatómicos, como sugere também que os D. matildae eram vorazes comedores de plantas e não eram muito esquisitos, alimentando-se de uma grande variedade de espécies vegetais, o que até agora não tinha sido possível confirmar.

Além disso, os resultados da análise parecem indicar que pelo menos alguns saurópodes, apesar dos longos pescoços, eram capazes de se alimentar de plantas a diversas altitudes, e não apenas de plantas no topo das árvores.
O conteúdo estomacal sugere também que “Judy”, e possivelmente outros saurópodes, não mastigavam o que apanhavam nas suas bocas, um traço que, dizem os cientistas, está ainda presente em répteis herbívoros e em aves modernas.
“Isso significa que não teriam mastigado a sua comida, engolindo-a inteira e deixando que os seus sistemas digestivos tratassem do resto”, explica, em comunicado, Stephen Poropat, primeiro autor do estudo. “É possível que qualquer refeição ficasse nos seus tratos digestivos durante até duas semanas antes de os resíduos dessa refeição serem excretados”, acrescenta. Ou seja, a digestão dos saurópodes poderia demorar quase 15 dias a ser feita.
Assim, ao contrário, por exemplo, de nós, humanos, para quem a mastigação dos alimentos é parte importante do processo digestivo, a digestão dos saurópodes assentava, quase exclusivamente, na decomposição feita dos microrganismos que tinha no seu sistema digestivo.
Com 12 metros de comprimento, “Judy” era ainda um animal jovem quando morreu, pelo que os cientistas dizem que agora é importante estudar os conteúdos dos estômagos de outros saurópodes para perceber se os hábitos alimentares vão mudando à medida que o animal vai crescendo (em tamanho e idade).
Os investigadores dizem que saber o que um dinossauro comia é fundamental para compreender não só a sua biologia, mas também para perceber o seu papel nos ecossistemas de há vários milhões de anos. Contudo, fósseis de dinossauros com conteúdos preservados no estômago não é algo que se encontre todos os dias.