Guterres diz ver vontade sólida para relançar desenvolvimento apesar da geopolítica



O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, defendeu hoje que há “vontade sólida” na comunidade internacional de relançar a cooperação e o financiamento ao desenvolvimento, apesar do momento complicado a nível da geopolítica.

“Sejamos claros, esta conferência [da ONU sobre o financiamento para o desenvolvimento, que arrancou hoje em Sevilha] ocorre num dos momentos mais difíceis que já testemunhei na minha vida pública”, disse Guterres, numa conferência de imprensa na cidade espanhola.

O secretário-geral da ONU realçou a multiplicação de conflitos e as tensões no sistema multilateral que estão a aumentar as dificuldades dos países em desenvolvimento a as respostas de que precisam, nomeadamente, a nível do clima, da gestão das dívidas soberanas e de “todos os aspetos do desenvolvimento”.

Apesar disso, e até tendo em conta este cenário e o “momento tão difícil, com os países tão divididos”, considerou ser de destacar e valorizar que a conferência que arrancou hoje em Espanha tenha conseguido aprovar um acordo, conhecido como “Compromisso de Sevilha”, que “representa um passo em frente” no relançamento da mobilização de recursos para financiar o desenvolvimento e da cooperação internacional para combater a pobreza.

“É claro, há uma vontade sólida e empenho da comunidade internacional para mudar o sistema para permitir que os países em desenvolvimento beneficiem do progresso “, defendeu António Guterres.

Só um dos 193 países da ONU, os EUA, não subscreveu o documento, embora seja o Estado com maior peso na ajuda internacional ao desenvolvimento, pelo menos até aos cortes de verbas decididas pela atual administração norte-americana, liderada por Donald Trump desde janeiro.

“Sabemos que há resistência, que é essencialmente uma questão e poder”, disse Guterres em resposta a uma pergunta sobre os EUA, antes de deixar uma “mensagem aos poderosos”: “É melhor liderarem a reforma do sistema agora do que esperarem e eventualmente sofrerem resistências mais tarde, quando as relações de poder mudarem”.

“Acredito que as reformas propostas em Sevilha são absolutamente necessárias tanto para os países em desenvolvimento como desenvolvidos”, acrescentou.

Guterres apelou ainda ao fim dos conflitos que se multiplicam e perpetuam no mundo e sublinhou que “a paz sustentável exige desenvolvimento sustentável”, num momento em que há cada vez maiores orçamentos destinados à Defesa e caem os da ajuda pública ao desenvolvimento.

O “Compromisso de Sevilha” hoje adotado pelos países presentes na conferência da ONU propõe uma nova arquitetura para o financiamento do desenvolvimento, com novos mecanismos para mobilizar mais recursos, incluindo maior atração do setor privado, mais flexibilidade e agilidade por parte dos bancos de investimento, novos fóruns e regras para gestão das dívidas soberanas ou políticas fiscais internacionais e nacionais mais transparentes.

O documento pretende também que os processos de decisão relativos a dívidas públicas e investimentos tenham maior participação dos países em desenvolvimento, sublinhando que só com mais cooperação internacional e o reforço do sistema multilateral é possível combater a pobreza e promover o progresso global.

Para António Guterres, este não é um momento para esperar um aumento de ajudas públicas ao desenvolvimento, mas de criar novas formas de mobilizar recursos, passando pelo setor privado e com maior protagonismo dos bancos de desenvolvimento, tanto nacionais como multilaterais, que deveriam triplicar as verbas que hoje destinam a esta área, como estabelece o “Compromisso de Sevilha”.

“Há muitas formas de multiplicar os recursos disponíveis se houver vontade política para o fazer. Se os EUA estivessem a bordo, seria excelente, mas pode ser feito, de qualquer maneira, por aqueles que tiverem vontade de o fazer”, defendeu.

Mais de 60 líderes mundiais e 4.000 representantes da sociedade civil estarão em Sevilha até quinta-feira, nesta conferência da ONU para tentar relançar a ajuda ao desenvolvimento, que tem atualmente um défice de quatro biliões de dólares anuais, segundo as Nações Unidas.






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