Alentejo acolhe a primeira aldeia regenerativa da Europa

À medida que cada vez mais jovens se afastam dos estilos de vida tradicionalmente consumistas em busca de um modo de vida mais saudável e sustentável, começam a surgir alternativas inovadoras em toda a Europa. Uma das mais ambiciosas é a Traditional Dream Factory, um projeto sem fins lucrativos sediado em Abela, uma pequena aldeia do concelho de Santiago do Cacém, Alentejo, foi divulgado em comunicado.
Segundo a mesma fonte, a TDF é a primeira iniciativa da OASA Network, uma associação dedicada à construção de uma rede global de comunidades regenerativas de coabitação. Por detrás do projeto está um grupo de mais de 60 membros, em contínuo crescimento, incluindo engenheiros, permacultores, arquitetos e criativos, liderados pelo fundador e empreendedor tecnológico Samuel Delesque.
“Estamos a criar um local onde as pessoas podem viver, trabalhar e crescer em conjunto, ao mesmo tempo que cuidam do ambiente”, afirma Delesque. “O nosso objetivo é demonstrar que um estilo de vida sustentável pode ser simultaneamente prático e inspirador”.
Uma aldeia regenerativa para nómadas digitais
O projeto está a tomar forma num antigo espaço de criação avícola, um local outrora abandonado, que está agora a ser reconvertido num vibrante centro de coliving e coworking rodeado de árvores, campos e natureza. No entanto, o local continua a ter um lugar especial no coração daqueles que lá trabalhavam. “O José – um homem de 70 anos que trabalhava na unidade industrial – visita-nos regularmente e traz-nos pequenos presentes da sua terra”, explica um membro da TDF.
“Através dos nossos valores comuns de regeneração, tanto ecológicos como pessoais, a par da nossa gestão responsável da terra, criamos um sentimento de pertença e uma sensação de lar para aqueles que passam algum tempo connosco”, partilha Luna Mangan, Anfitriã do Espaço TDF.
Atualmente, a TDF já se encontra em operação: tem áreas para caravanas, alojamentos glamping, uma cafetaria, uma sauna e um espaço para eventos de 140 m². A capacidade atual é de 15 a 25 pessoas, com a possibilidade de receber até 100 participantes em atividades ou eventos. No total, já foram angariados mais de 1 milhão de euros, graças à colaboração de membros e amigos.
Os planos de expansão preveem a construção de 14 suítes privadas, 23 casas de madeira entre 35 m² e 70 m², 4 estúdios para artistas residentes, um restaurante e uma piscina biológica. Até 2026, a TDF espera receber uma comunidade permanente de até 100 residentes e organizar eventos com mais de 200 participantes. Para financiar esta nova fase, a equipa planeia angariar mais 800 mil euros na nova ronda de investimento.
Com a expansão ainda em curso, a TDF já alcançou vários marcos importantes. A equipa plantou mais de 4.000 árvores, construiu áreas de retenção de água e está atualmente a desenvolver pomares, uma horta, uma quinta de cogumelos e outros lagos para apoiar a retenção de água numa região muito seca. Já se encontra em funcionamento um espaço de coworking com boa Internet, além de espaços de criação e um programa de eventos e workshops.
“Todas as infraestruturas essenciais já estão a funcionar”, explica Delesque. “É um local onde se pode trabalhar remotamente, partilhar conhecimento e fazer parte de algo maior, algo enraizado em valores importantes”.
Um modelo descentralizado com uma economia própria
A TDF está estruturada como uma Organização Autónoma Descentralizada (DAO) – um modelo de governação em que as decisões são tomadas coletivamente, em vez de dependerem de uma autoridade central. Este modelo reflete os valores fundamentais do projeto: inclusão, transparência, capacitação e gestão ambiental.
O projeto também opera seu próprio token de utilidade, $TDF, criado na blockchain Celo. O token é usado para financiar o desenvolvimento e a manutenção da aldeia, ao mesmo tempo que protege a terra como um bem comum regenerativo.
“Cada token $TDF garante acesso à aldeia um dia por ano, desde que seja mantido”, de acordo o regulamento da TDF. “Trata-se de um mecanismo simples, mas poderoso, para criar um compromisso a longo prazo e uma responsabilidade partilhada”, afirma um colaborador da TDF. A TDF conta com mais de 256 titulares de tokens, os quais contribuem para financiar o projeto, recebendo em troca privilégios nas estadias.
Longe do hype especulativo da criptografia, o token está diretamente ligado ao uso da terra no mundo real, à infraestrutura física e aos KPIs ecológicos. Tanto os investidores como os membros da comunidade são incentivados a co-criar valor – não apenas a extraí-lo.