Mustela acelera rumo ao “desperdício zero”: inovação circular no cuidado pediátrico

Quando os Laboratoires Expanscience lançaram a Mustela, em 1950, o propósito era simples: proteger a pele frágil dos bebés com fórmulas de origem vegetal. Setenta e cinco anos depois, a marca continua a tratar da pele — mas também do planeta que essa pele vai habitar. A transição sustentável tornou-se matriz de negócio e espelha-se em cada decisão, da escolha dos ingredientes ao design de embalagens, passando por parcerias sociais que envolvem pais, pediatras e organizações de infância.
Ingredientes que voltam ao ciclo da natureza
Hoje, uma referência média da Mustela integra 96 % de ingredientes naturais e bases biológicas como o óleo de abacate obtido por destilação molecular, a cera de abelha ou o óleo de girassol. Parte destes compostos nasce do reaproveitamento de subprodutos da indústria alimentar — o caroço de abacate, por exemplo, ganha nova vida como activo cosmético — reduzindo a pressão sobre recursos virgens e fomentando cadeias agrícolas regenerativas. A segurança pediátrica, crucial quando o público-alvo tem poucos dias de vida, é garantida através do modelo Stelaskin®, uma pele infantil reconstruída em laboratório que permite testar toxicidade, eficácia e tolerância sem recurso a animais.
Embalagens mais leves e sistemas recarregáveis
A ambição de “zero desperdício” fica patente na política de packaging. Entre 2020 e 2021, a empresa retirou 152 toneladas de plástico e 65 toneladas de cartão do mercado, ao mesmo tempo que transformava todos os frascos e tubos em monomateriais 100 % recicláveis. O passo seguinte foi reduzir ainda mais a massa dos recipientes: o novo Champô Creme Desembaraçador Nutritivo, lançado em 2024, usa 50 % menos plástico do que as garrafas anteriores e combina-o com uma fórmula vegan que mantém 96 % de origem natural.
Para além disso, a Mustela aderiu ao consórcio Pharma-Recharge, que testa pontos de recarga para higiene e cuidados em farmácias, preparando a expansão de eco-refills para vários mercados europeus.
Fábricas que consomem menos
A transformação não se limita ao que chega à prateleira. Na unidade produtiva do grupo, o consumo por cada 100 unidades fabricadas caiu 19 % em eletricidade, 24 % em gás e 13 % em água (2020-2024). Estes ganhos resultam da modernização de caldeiras, da recuperação de calor e da digitalização de fluxos, permitindo afinar consumos em tempo real. O progresso é auditado por organismos como a ISO 14001, a Ecovadis (nível Platina) e refletido nas Declarações Ambientais de Produto exigidas pelos organismos de certificação BREEAM ou LEED.
Neutralidade carbónica até 2030
Desde 2018, Mustela integra a comunidade B Corp, estatuto que obriga a recertificações trianuais e fixa métricas quantificáveis em clima, materiais e impacto social.
O roteiro climático assume a neutralidade carbónica em 2030, vinte anos antes do prazo-guia do Acordo de Paris, com metas por etapa validadas internamente e verificação externa em curso. O corte absoluto de emissões decorre de três alavancas: fórmulas de baixo carbono, energia renovável na produção e logística optimizada — cada palete transporta mais unidades graças às embalagens leves, reduzindo viagens e CO₂.
Co-criação com famílias e ativismo social
A inovação não se faz em circuito fechado. Para desenvolver o Stelatopia+, creme relipidante para pele atópica, a marca convocou 100 famílias que testaram protótipos e participaram na formulação final, garantindo eficácia clínica e preferência de uso. Sem esquecer que o cuidado infantil ultrapassa a epiderme, a subsidiária portuguesa da Mustela dinamiza, em parceria com a Fundação Gil e a Associação Ser Bebé, workshops e podcasts sobre saúde mental na infância, num programa que já alcança milhares de pais em todo o país.
O que vem a seguir
Até 2027, a Mustela quer que metade do seu portefólio esteja disponível em formato sólido ou recarga, que 100 % das fórmulas ultrapassem os 97 % de naturalidade e que todas as embalagens plásticas incorporem reciclado pós-consumo. A internacionalização destas soluções coloca desafios logísticos e regulatórios — nem todos os mercados aceitam, por exemplo, frascos reutilizáveis ou matérias-primas upcycled. Mesmo assim, a empresa acredita que a pressão combinada de consumidores informados, farmácias parceiras e selos independentes manterá o ritmo de mudança.
A distinção “Escolha Sustentável 2025” — obtida com 94 % de pontuação — veio confirmar o rumo, mas não o iniciou. O que sustenta o avanço é a teia de indicadores auditados, a experimentação em larga escala e a convicção de que, no cuidado ao bebé, cada grama de creme e cada grão de plástico contam. Com o planeta e a saúde infantil interligados, a Mustela mostra que circularidade, ciência e ternura podem — e devem — caber num mesmo frasco.