Fatores ambientais criam teias alimentares semelhantes mesmo em oceanos distantes



Comunidades marinhas em oceanos distantes uns dos outros, formadas por espécies completamente diferentes, desenvolvem estruturas alimentares semelhantes, revela novo estudo.

A descoberta foi divulgada num artigo publicado na revista ‘PNAS’, liderado por cientistas Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR), da Universidade do Algarve, do CHANGE – Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade e do MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, da Universidade de Aveiro.

De acordo com os resultados, essas semelhanças nas teias tróficas devem-se ao facto de os oceanos terem condições ambientais similares. Para os investigadores, essa constatação pode ser um elemento-chave para prever como os ecossistemas vão reagir às alterações climáticas.

A estrutura trófica de uma comunidade é o seu “plano alimentar” e como é que as diferentes formas de alimentação se equilibram dentro do ecossistema. Ou seja, é a relação entre os seres vivos e a comida, descreve a equipa.

Até agora, pensava-se que as teias tróficas das comunidades marinhas dependiam da história evolutiva das espécies, isoladas em diferentes regiões, mas este estudo revela outro papel determinante: o ambiente. Fatores ambientais, como a temperatura da água, a profundidade e a disponibilidade de nutrientes, parecem criar regras universais capazes de moldar padrões alimentares semelhantes em ecossistemas distantes.

A investigação teve por base a análise da dieta de quase 5.600 espécies de vertebrados marinhos de todo o mundo, incluindo peixes, tartarugas, mamíferos e aves marinhas. As diversas espécies foram agrupadas de acordo com os seus principais grupos alimentares: desde consumidores de plâncton a predadores de peixes, passando por espécies que se alimentam de invertebrados do fundo do mar. Ao mapear estas categorias à escala global, a análise permitiu identificar seis grandes tipos de comunidades tróficas.

“É como observar projetos arquitetónicos semelhantes que surgiram espontaneamente em diferentes partes do mundo por obedecerem às mesmas leis da física”, explica, em comunicado, Jorge Assis, investigador do CCMAR e coautor do estudo.

“Neste caso, as condições ambientais funcionam como ‘leis’ que orientam a estruturação das teias tróficas marinhas”, acrescenta.

Um dos exemplos mais marcantes foi o das águas frias e profundas, onde predominam comunidades com teias tróficas mais simples e generalistas, em contraste com zonas tropicais costeiras, como recifes de coral, onde surgem teias muito mais complexas. Isto acontece mesmo quando as espécies envolvidas não estão geneticamente relacionadas e em várias zonas do globo.

“A forte ligação entre a temperatura da água e o tipo de teia trófica sugere que o aquecimento dos oceanos poderá provocar alterações significativas nestas estruturas”, refere Jorge Assis.

“Regiões hoje dominadas por comunidades de águas frias poderão, no futuro, dar lugar a ecossistemas semelhantes aos de zonas mais quentes.”

Para os investigadores envolvidos, este estudo representa uma nova forma de estudar a biodiversidade marinha, focando-se menos nas espécies individualmente e mais nas funções ecológicas que desempenham.

Além disso, consideram que o conhecimento produzido poderá ser fundamental para prever como diferentes comunidades marinhas irão reagir às mudanças globais, como o aquecimento dos oceanos, ajudando a antecipar impactos e a orientar estratégias de conservação mais eficazes.






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