Materiais representam 91% das emissões totais da indústria da moda



Os materiais utilizados pela indústria da moda – desde algodão e poliéster até fibras sintéticas – são responsáveis por 91% das emissões carbónicas totais emitidas por esta indústria, segundo o estudo “Scaling Next-Gen Materials in Fashion: An Executive Guide”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG) em parceria com a Fashion for Good, foi divulgado em comunicado.

Segundo a mesma fonte, no que diz respeito à estrutura de custos dos produtos, os materiais representam, em média, cerca de um terço (30%) do custo dos bens vendidos (COGS), podendo variar entre 15 e 25% no segmento de luxo e alcançar até 60% no mercado de fast fashion.

Inovação nos materiais pode ser solução para reduzir o impacto ambiental A indústria de moda enfrenta fortes pressões regulatórias, disrupções nas cadeias de abastecimento, mudanças nas preferências dos consumidores e avanços tecnológicos.

Neste contexto, a aposta em materiais inovadores de próxima geração (next-gen), como têxteis reciclados, fibras produzidas a partir de resíduos agrícolas, soluções biossintéticas ou algodão cultivado em laboratório, surge como uma oportunidade estratégica para transformar a indústria da moda.

Estes materiais inovadores e economicamente viáveis podem tornar o setor mais sustentável, resiliente e competitivo. Até 2030, os materiais de próxima geração poderão atingir cerca de 8% do mercado global de fibras, o que corresponde a cerca de 13 milhões de toneladas de materiais, um crescimento significativo face ao 1% que representam atualmente.

No entanto, este avanço poderá ser insuficiente para satisfazer a procura da indústria, reforçando a necessidade de ação coordenada entre os principais atores do setor.

Ademais, a transição estratégica para materiais next-gen pode gerar uma redução de até 4% no custo dos bens vendidos (COGS) nos próximos cinco a seis anos. Esta poupança, que resulta da combinação entre menor exposição à volatilidade dos preços das matérias-primas convencionais, maior estabilidade nas cadeias de abastecimento e eficiências operacionais obtidas como ganho de escala, permite às marcas e empresas da indústria ganharem vantagens competitivas.

Apesar do seu potencial, a transição para materiais mais sustentáveis enfrenta obstáculos, nomeadamente os custos de desenvolvimento, as limitações técnicas e a falta de capacidade de escalar estas soluções. Perante este cenário, a BCG recomenda um roteiro de ação, centrado em três alavancas fundamentais:

  1. Procura: As empresas devem definir metas claras de utilização de materiais de próxima geração, agregar a procura entre diferentes marcas e garantir compromissos de compra que incentivem o investimento e a expansão da capacidade produtiva.
  2. Custo: As organizações precisam de investir em engenharia de processos, padronização de materiais e eficiência na cadeia de valor, de forma a alcançar economias de escala e tornando os custos dos materiais next-genmais acessíveis, permitindo também acelerar a sua adoção em detrimento dos materiais convencionais.
  3. Capital: É crucial que as empresar consigam mobilizar financiamento estratégico, incluindo investimentos diretos e parcerias de inovação, ao longo de todas as fases da curva de adoção, desde a investigação e desenvolvimento até à produção em escala, para garantir o crescimento sustentado.

Aposta numa abordagem integrada 

Para superar os desafios, alcançar as metas ambientais globais e garantir o sucesso desta transformação, é essencial que as marcas nesta indústria integrem os materiais next-gen nas suas estratégias de negócio e que haja uma colaboração próxima entre os diversos atores da indústria.

Esta integração implica não só compromissos públicos e investimentos internos, mas também a criação de equipas especializadas em materiais e inovação, com objetivos claros, métricas de desempenho e envolvimento transversal das várias áreas da organização, desde a conceção à cadeia de abastecimento.

Na indústria da moda a nível global, altamente fragmentada e interdependente, a colaboração será um fator decisivo para escalar soluções mais sustentáveis. A adoção de iniciativas conjuntas para o desenvolvimento de tecnologias, a definição de especificações comuns e a partilha de infraestruturas podem acelerar a adoção destes materiais, reduzir os seus custos e torná-los acessíveis a um número mais vasto de marcas e consumidores, impulsionando a sua adoção a nível global.

O estudo está disponível na íntegra aqui.

 






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