Proteção do clima é “mais importante que nunca”

A antiga chanceler alemã Angela Merkel alertou ontem que a proteção do clima e dos recursos naturais é “mais importante do que nunca”, até porque podem estar em causa os fundamentos da vida humana no planeta.
Numa altura de guerras e conflitos, em que as prioridades mudam e a sustentabilidade e o clima podem parecer “fora de moda”, a verdade é que a defesa do clima e dos recursos tem de ser abordada e prosseguida de forma consistente desde já, disse Angela Merkel na entrega do Prémio Gulbenkian para a Humanidade 2025 à organização Coligação para a Antártida e o Oceano do Sul (ASOC, na sigla original em inglês), pelo seu trabalho na proteção de “um dos mais cruciais e frágeis ecossistemas do mundo e na preservação de um dos territórios mais remotos do planeta”..
“Se as consequências negativas das alterações climáticas continuarem com a mesma intensidade que até agora, os fundamentos da nossa vida na Terra serão postos em causa – independentemente de outras crises”, afirmou Angela Merkel, que preside ao júri do Prémio, criado em 2019 para homenagear pessoas, organizações e projetos da área da proteção do clima.
Lembrando os recordes de calor registados na Europa na semana passada, Merkel alertou que as consequências das alterações climáticas são cada vez mais visíveis.
Num ano em que foram apresentadas 212 candidaturas ao Prémio por 115 países, Angela Merkel disse que a escolha da ASOC visa chamar a atenção para uma região que “desempenha um papel essencial no combate às alterações climáticas”.
A antiga chanceler lembrou, segundo a tradução livre do discurso proferido em alemão e distribuída pela Fundação Gulbenkian, o papel do gelo marinho na regulação do clima e a importância do “permafrost” (regiões permanentemente geladas), e recordou o relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) de 2019 sobre os oceanos e a criosfera.
O facto de a ONU ter declarado 2025 como o Ano Internacional da Conservação dos Glaciares mostra que este tema continua a ser atual e ao qual a comunidade mundial dá atenção, disse, considerado que esse é também o princípio da ASOC, durante 47 anos a voz principal de uma abordagem responsável da Antártida e do Oceano Austral.
Em nome da ASOC, Claire Christian e Jim Barnes agradeceram o prémio, no valor de um milhão de euros, mas destacaram o “trabalho árduo” dos primeiros ativistas, que deram a base para se continuar a conseguir uma maior proteção para a Antártida.
Claire Christian, diretora executiva da ASOC, destacou o apoio de uma grande rede de indivíduos, doadores, fundações e organizações dedicados “que continuam empenhados na Antártida, independentemente dos desafios”.
Destacando o trabalho da ASOC que muitas vezes é pouco visível mas gratificante, a responsável salientou o “momento crucial” para o ambiente e a proteção ambiental que se vive, a dupla crise de alterações climáticas e da perda de biodiversidade.
Jim Barnes, cofundador da ASOC, alertou para o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, recordou o trabalho da organização, um “cão de guarda” internacional da Antártida”, e salientou que a Antártida e o Oceano Austral devem ser protegidos como um Parque Mundial desmilitarizado, com todas as atividades minerais proibidas e a pesca rigorosamente controlada.
António Feijó, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian disse, citado num comunicado da Fundação, que o trabalho da ASOC mostra que é essencial proteger os lugares mais remotos da Terra, a fim de salvaguardar o futuro comum da humanidade.
Na cerimónia de entrega do prémio, na Fundação, lembrou que a Gulbenkian fará 70 anos em 2026, efeméride que será marcada por duas iniciativas apenas, e recordou as grandes iniciativas e apoios da Fundação Gulbenkian ao longo dos tempos, em Portugal e em outros países e regiões.