Ricardo Silva: “Construir uma casa com embalagens Tetra Pak não é trabalhoso”



Requer muita paciência, mas não é um projecto trabalhoso. É assim que Ricardo Santos Silva, o designer que construiu esta casa de brincar com embalagens da Tetra Pak, fala do seu projecto de reutilização de materiais.

Como surgiu a ideia de fazer uma casa de brincar com embalagens da Tetra Pak?

Queríamos dinamizar um espaço coberto no pátio da casa dos meus sogros, onde tanto a minha filha como os meus sobrinhos passam alguns momentos de lazer, principalmente ao fim-de-semana. E uma casa de brincar em miniatura pareceu-nos ser uma boa ideia.

O mérito da ideia inicial da construção de uma casinha de brincar com embalagens Tetra Pak foi da minha esposa. A inspiração veio de umas imagens que vimos na internet, de construções feitas com pacotes de leite.

Qual a maior dificuldade que sentiu ao executar este projecto?

Digamos que a maior dificuldade foi mesmo a preparação dos pacotes de leite. À medida que nos iam entregando, os pacotes tinham de ser logo abertos no topo e convenientemente lavados. Foi uma tarefa difícil principalmente por não ser muito agradável, mas que, por questões de higiene tinha de ser feita.

As madeiras para a estrutura e alpendre, como vieram em bruto, também deram algum trabalho a aparelhar e a cortar à medida.

Quanto tempo demorou a completá-lo?

Entre começar a recolher e preparar as embalagens Tetra Pak (o que levou cerca de dois meses) e o término da construção passaram quatro meses. É claro que não estamos a falar de trabalho contínuo, apenas umas horas aos fins-de-semana e com férias pelo meio.

Qual o tamanho da habitação?

A casa foi pensada para assentar em cima de quatro euro-paletes juntas, logo tem 2,4m de comprido por 1,6m de largura. Para além das euro-paletes permitirem um dia, se necessário, movimentar toda e estrutura, também têm a medida exacta e compatível com o tamanho das embalagens Tetra Pak. Ou seja, permite que as paredes terminem exactamente no fim da área criada pelas paletes. A altura, no ponto máximo do telhado, tem 2.20 metros, o que permite que um adulto esteja em pé dentro da casa.

Que conselhos daria a quem pretende fazer uma construção igual, mas não sabe por onde começar?

Para começar, peçam que vos dêem pacotes já passados por água [risos]. De resto, e por defeito profissional, acho que um bom planeamento do projecto é essencial, para que se leve a empreitada até ao fim. Rabisquem, anotem, verifiquem bem as medidas, quantidades e metodologias a aplicar.

De 1 a 10 – sendo 1 = fácil e 10 = difícil – como avaliaria a dificuldade do projecto?

Penso que um 8 é a nota mais justa. Embora dependa muito da capacidade de cada um, não é um projecto trabalhoso. Faz-se bem com alguma paciência. A ajuda e o envolvimento da família, para além de proporcionar bons momentos de convívio, também facilita um bocado a tarefa.

Para quem não tem jeito para bricolage ou está a começar do zero, é um projecto acessível ou recomendável?

Sim. É acessível porque, tirando a estrutura e alpendre em madeira (que pode ser simplificado), não requer técnicas muito exigentes. Lavar pacotes, encher e colar para fazer paredes está ao alcance de qualquer pessoa. É quase uma brincadeira tipo lego.

E sim, recomendo um projecto deste tipo. Penso que será algo que os nossos filhos nunca vão esquecer, tal como eu não vou esquecer os seus sorrisos e pulos de felicidade cada vez que acordavam da sesta e viam mais um pequeno avanço na construção. Era como um elixir mágico que me fazia esquecer todo o cansaço.

Guiou-se por algum manual?

Não. Apesar de ter estudado alguns projectos de casas de brincar em madeira, tive de reformular e adaptar todo este projecto para as medidas pretendidas e para as embalagens Tetra Pak. Para além de uns esboços, criei um modelo Cad em 3D com medidas e proporções do que pretendia fazer no final.

No futuro, pensa em criar outras construções a partir da reutilização de objectos e outros elementos?

Sim. Está já na calha a ideia de criar uma casa de brincar em cima de um parque de areia no quintal dos meus cunhados. Neste caso, estamos a pensar utilizar apenas euro-paletes para toda a estrutura. Vamos ver como fica.


Ricardo Santos Silva nasceu em Lisboa, mas passou a sua juventude em Odivelas, tendo completado o secundário na área de artes, na Escola Secundária de Odivelas. Em 1995, ingressou no curso de design na Escola Superior de Design e Marketing, IADE, onde se licenciou em Design Industrial.

De 1999 a 2000 integrou o programa de estágios para jovens designers nas empresas, do CPD (Centro Português de Design), onde desenvolveu vários projectos na área dos plásticos na empresa Molding. No ano 2000 foi nomeado Designer Industrial no Departamento de I&D da ICEL, em Benedita, onde é responsável pela criação, acompanhamento e desenvolvimento de produto, stands, expositores e o design gráfico na empresa.

Para além do design, Ricardo Santos tem interesses em áreas como a fotografia, mecânica e os automóveis antigos, bem como tudo o relacionado com pequenas construções e bricolages.





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