Imagens raras captam crias de leopardo-das-neves em tocas na Mongólia
Na reserva natural montanhosa de Tost Tosonbumba, no sul da Mongólia, a poucos quilómetros da fronteira com a China, cientistas da organização conservacionista Snow Leopard Trust encontraram cinco crias de leopardo-das-neves nas suas tocas.
Os leopardos-das-neves (Panthera uncia) são considerados animais extremamente esquivos, pelo que não são fáceis de observar nem de estudar, especialmente porque tendem a viver em zonas de difícil acesso. Por isso, pouco se sabe sobre a sua reprodução, como a frequência com que as fêmeas dão à luz, o tamanho das ninhadas e as taxas de sobrevivência das crias.
Sem esses dados, torna-se complicado tentar perceber como é que as populações de leopardos-das-neves lidam com fatores de pressão como doenças, caça furtiva e declínio das suas presas. Sendo uma espécie vulnerável ao risco de extinção, de acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, saber o máximo possível sobre como esses animais se reproduzem e sobre as primeiras etapas de vida das crias é fundamental.
O recurso a técnicas de foto-armadilhagem, um método não invasivo para monitorizar animais em contexto selvagem com câmaras ligadas a sensores de movimento que captam imagens automaticamente, tem sido importante para desvendar os segredos da vida desses felídeos. No entanto, as crias só começam a deixar as tocas onde nasceram e a acompanhar a progenitora por volta dos cinco meses de idade, pelo que, até lá, as suas vidas são um mistério.

Quantas nascem? Quantas sobrevivem? São todas questões cujas respostas os cientistas só conseguem obter viajando até às tocas e contando as crias presencialmente.
É por isso que, entre finais de junho e inícios de julho, cientistas da Snow Leopard Trust percorreram terrenos acidentados em busca de sinais dos pequenos leopardos-das-neves. Já suspeitavam de que duas fêmeas, com os nomes de código F12 e F19, tinham, muito provavelmente, tido crias. Por terem sido equipadas com coleiras GPS, os cientistas sabiam mais ou menos onde estariam as suas tocas, e lançaram-se na sua busca.
Com equipamentos de deteção de sinais de rádio, confirmavam que as progenitoras estavam fora das tocas, provavelmente a caçar, antes de delas se aproximarem. Não recebendo sinais rádio, entraram no covil da F12 e depararam-se com duas crias, um macho e uma fêmea. Tinham cerca de 28 dias de vida, pesavam perto dois quilogramas e pareciam bem de saúde.
Foram colhidas amostras de saliva para análise genética e implantaram nas crias microchips para permitir a sua identificação quando, dali a alguns anos, quando forem adultas, recapturarem-nas para lhes colocarem coleiras GPS.
De acordo com a informação divulgada pela Snow Leopard Trust, todo o processo demora apenas alguns minutos e os cientistas tentam causar o mínimo de perturbação possível.
Finalizados os exames, a equipa encaminhou-se para a toca da F19. A fêmea estava com as crias, por isso os cientistas não tiveram outra opção senão esperar que voltasse a sair. Passaram-se três dias e nada, mas no dia 3 de julho, a F19 partiu numa caçada, e a equipa avançou.
Na toca encontrou três crias, dois machos e uma fêmea, todos com 1,7 quilogramas de peso e de boa saúde.

No final, contaram-se cinco crias que podem ajudar a estabilizar o futuro de uma espécie em risco, mas emblemática da fauna asiática.
A Snow Leopard Trust assegura que a equipa confirmou que, depois das suas visitas, as fêmeas continuavam a usar as tocas, confirmando, dessa forma, que a presença dos humanos não causar perturbações significativas.
Além disso, diz que a localização exata das tocas não é divulgada para proteger os animais.
“Num mundo onde os leopardos-das-neves enfrentam ameaças crescentes da caça ilegal, das alterações climáticas, da perda de habitat e de mortes retaliatórias pela predação de gado, cada cria de leopardo-das-neves nascida na natureza importa”, salienta a organização.
Chamados muitas vezes de “fantasmas das montanhas”, por viverem em habitats de altitude e por serem difíceis de observar, os leopardos-das-neves (Panthera uncia) são uma espécie vulnerável ao risco de extinção. Os conflitos com humanos, a escassez de presas e a perda de habitats estão entre as principais ameaças.
Atualmente, a sua área de distribuição incide sobretudo sobre a Ásia central, estendendo-se dos Himalaias, a sul, às montanhas Altai, a norte, e do Paquistão, a ocidente, à China, a oriente.