Nortúmbria é a única região capaz de suportar o regresso do lince à Grã-Bretanha
Há cerca de 1.300 anos, o lince-eurasiático (Lynx lynx) desapareceu da Grã-Bretanha. A caça excessiva e a perda das florestas onde vivia empurraram o predador para a extinção, mas estão em curso esforços para tentar recuperar a espécie e devolvê-la ao seu habitat natural.
O projeto Missing Lynx faz parte desse movimento, coordenado pelo Lifescape Project em parceria com as organizações conservacionistas Nothumberland Wildlife Trust e The Wildlife Trusts.
Num artigo publicado recentemente na revista ‘Journal of Environmental Management’, cientistas integrados nesse projeto revelam que Nortúmbria, um condado no norte de Inglaterra, é a melhor região para dar início à reintrodução do lince na Natureza britânica.
Com base numa auscultação social que dura há cerca de um ano, e que ainda decorre, os investigadores concluem que 72% dos habitantes de Nortúmbria apoiam uma eventual reintrodução do lince. Além disso, mostram que esse condado britânico é a única zona que atualmente em Inglaterra e no País de Gales tem uma área florestada suficientemente extensa para permitir que os linces reintroduzidos prosperem.
Calculam os cientistas que a libertação de 20 linces na floresta de Kielder, no noroeste de Nortúmbria, ao longo de um período de vários anos resultaria, eventualmente, numa “população saudável” de 50 desses felídeos selvagens.
Deborah Brady, ecóloga-chefe do Lifescape Project, considera que a aceitação pública de uma possível reintrodução é um bom sinal.
“Agora sabemos que uma maioria da população local apoia a reintrodução do lince e tenho também evidências científicas que mostram que uma libertação de linces no noroeste de Nortúmbria pode funcionar”, explica em comunicado.
“Continuaremos a trabalhar com as comunidades locais para considerar como um projeto de reintrodução poderá ser gerido para maximizar os benefícios e reduzir os riscos. Esperamos solicitar uma licença, mas somente depois de termos um plano elaborado em colaboração com a população local que estabeleça medidas que sejam aceitáveis, viáveis e passíveis de serem implementadas”, salienta.
Os conservacionistas destacam a importância do regresso dos linces para a manutenção das populações de espécies presas, como os veados, apontando que os predadores ajudarão a atenuar os danos causados pelos ungulados nas plantações.
Ainda assim, vários órgãos de comunicação britânicos reportam que as associações de pecuária têm dúvidas acerca deste projeto, e de outros semelhantes, e sobre os possíveis impactos na criação de gado.
Embora os especialistas do projeto estimem que os riscos de predação dos linces sobre ovelhas sejam reduzidos, a possibilidade de tal acontecer mantém-se uma realidade, e há receios de que a reintrodução do felídeo selvagem possa vir a ser fonte de conflitos.
No artigo, dizem que os resultados fornecem, para já, informações importantes para continuar o diálogo entre todas as partes interessadas, e reconhecem que “uma coexistência harmoniosa entre humanos e natureza é necessária para que uma reintrodução de linces possa ser um sucesso”.