Extremos climáticos podem causar perdas económicas de mais de um milhão de euros em Portugal já este ano

No verão deste ano, cerca de um quarto da União Europeia (UE) foi afetada por ondas de calor, secas e cheias. Novo estudo estima que consequências económicas desses eventos climáticos extremos podem resultar em perdas de 43 mil milhões de euros já este ano e de 126 mil milhões até 2029.
As estimativas são avançadas num artigo publicado esta semana, assinado por especialistas da Universidade de Mannheim (Alemanha) e do Banco Central Europeu, no qual mostram como os extremos climáticos afetam as economias, não apenas diretamente, mas também a longo-prazo.
“Os verdadeiros custos dos extremos climáticos surgem lentamente, porque esses eventos afetam vidas e modos de subsistência através de uma ampla série de canais que se estendem bem para lá do impacto inicial”, explica, em nota, Sehrish Usman, primeira autora do estudo.
De acordo com a investigação, baseada em dados de junho a agosto de 2025, a região do sul da Europa foi a mais afetada, destacando países como Portugal, Espanha, Itália, Grécia e sul de França. Países nórdicos, como a Dinamarca, a Suécia e a Alemanha, sofrerem impactos menores, mas, ainda assim, os especialistas dizem que “a frequência e a dimensão dos eventos climáticas extremos, especialmente as cheias, estão a aumentar nessas regiões”.
Ademais, indicam que “economias mais pequenas, como a Bulgária, Malta e Chipre, estão particularmente vulneráveis e sofrem grandes perdas relativamente ao valor acrescentado bruto”.
Ao analisarem 1.160 regiões europeias, os autores identificaram que, este verão, 96 foram atingidas por ondas de calor, 195 pela seca e 53 por cheias, e dizem que todos esses três tipos de extremos climáticos afetam a economia de diferentes formas.
“O calor leva a perdas de produtividade, por exemplo nas indústrias da construção e da [hotelaria e restauração], enquanto as secas afetam sobretudo a agricultura. As cheias causam danos diretos a infraestruturas e edifícios, bem como perdas indiretas, como as resultantes da perturbação das cadeias de abastecimento”, explicam.
A equipa calcula que as perdas económicas resultantes de secas, ondas de calor e cheias durante o verão em Portugal ascendam aos 1,3 mil milhões de euros, valor que pode quase triplicar, para os 3,6 mil milhões de euros, até 2029, o que equivale a perda de 0,53% e 1,45%, respetivamente, do valor acrescentado bruto face a 2024.
Na lista, Espanha surge como o Estado-membro da União Europeia com mais perdas, de 12,2 mil milhões de euros em 2025 e 35 mil milhões até 2029.
Os autores admitem que os valores apresentados no estudo são conservadores, uma vez que incêndios florestais e tempestades não foram considerados na análise.
Lembrando que os fenómenos climáticos extremos não são já uma “ameaça distante”, mas que estão já a afetar o desenvolvimento económico europeu, Usman aponta que “ter estimativas oportunas de impacto ajuda os decisores políticos a direcionarem apoio e a adaptarem estratégicas enquanto os efeitos de eventos extremos ainda estão a desenrolar-se”.