Aves migradoras estão a conseguir adaptar-se a um Ártico mais quente. Mas não será para sempre



As aves aquáticas migradoras que viajam para o Ártico para se reproduzirem têm alguma capacidade para anteciparem as suas longas jornadas para coincidirem com a chegada cada vez mais precoce da primavera ao pólo norte da Terra. Contudo, há limites.

Num artigo publicado recentemente na revista ‘Nature Climate Change’, mais de duas dezenas de cientistas acompanharam, via GPS, as migrações de cinco espécies: o ganso-de-faces-pretas (Branta bernicla bernicla), o ganso-de-faces-brancas (Branta leucopsis), o ganso-grande-de-testa-branca (Anser albifrons), o ganso-de-bico-curto (Anser brachyrhynchus) e o cisne-de-bewick (Cygnus columbianus bewickii).

A equipa percebeu que estas aves são capazes de reduzir o tempo que passam a alimentar-se, e a abastecerem as suas reservas de energia e gordura, em preparação para a migração, e, dessa forma, lançarem-se aos céus mais cedo para chegarem ao Ártico quando a primavera precoce começa a brotar.

“Os nossos resultados são tanto encorajadores como preocupantes”, admite, citado em comunicado, Hans Linssen, da Universidade de Amesterdão e primeiro autor do estudo.

“Mostramos que estas aves podem migrar mais rapidamente ajustando as paragens que fazem e os tempos de alimentação”, explica o investigador, mas avisa que esta flexibilidade só será vantajosa “durante mais umas décadas”, entre 18 e 28 anos, mais precisamente. Depois disso, adiantar as migrações, por si só, não será suficiente.

Isto, porque as aves precisam de estar bem alimentadas antes de percorrerem milhares de quilómetros até ao Ártico, e isso exige paragens ao longo do caminho para descansarem e recuperarem energias. Além disso, para partirem mais cedo e poderem coincidir a sua chegada com a de primaveras cada vez mais antecipadas, fruto das alterações climáticas, as aves precisam de alimentos de alta qualidade e condições favoráveis, o que nem sempre acontece.

Por isso, é possível que muitas aves acabem por chegar ao Ártico em más condições de saúde, o que poderá afetar a sua reprodução e, em última análise, o futuro das suas populações.

“Estas aves estão a mostrar uma adaptabilidade incrível”, refere Linssen. “Mas, em meados do século, elas precisarão de outras estratégias, como mudarem os seus locais de invernada ou alterarem completamente as rotas de migração, para conseguirem estar sincronizadas com a primavera ártica.”






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