“Sósias IA” de espécies raras de animais podem ajudar a fortalecer a sua proteção



As chamadas “deepfakes”, imagens falsas mas que parecem verdadeiras criadas através da manipulação de imagens digitais pré-existentes, são uma das crescentes tendências do mundo online. Frequentemente usadas com propósitos maliciosos, como para divulgar vídeos de figuras públicas e políticas a dizerem coisas que nunca disseram, essa técnica pode, ainda assim, ter uma utilização virtuosa.

Um grupo de cientistas acredita que é possível direcionar as “deepfakes” e a tecnologia de Inteligência Artificial (IA) subjacente para criar “sósias” de espécies raras de animais, ou cuja deteção seja difícil (como os que vivem nos vastos oceanos), que servirão para melhorar os esforços de estudo, monitorização e proteção dessas espécies.

Baleia-franca-do-atlântico-norte criada por IA. Crédito: Duke MaRRS Lab.

Como? Num texto publicado recentemente no portal da Escola Nicholas de Ambiente da Duke University (Estados Unidos da América), investigadores explicam que “deepfakes” de animais selvagens podem ser usadas para treinar modelos de IA para detetarem esses mesmos animais em fotografias recolhidas por satélites, drones e aviões.

“Estamos realmente na era do Big Data no que toca à deteção remota em ecologia e conservação”, afirma Dave Johnston, investigador dessa instituição académica norte-americana. “Nas últimas duas décadas, a nossa capacidade para recolher imagens de alta resolução captadas remotamente cresceu exponencialmente, em muito devido a avanços na tecnologia de drones e ao aumento das capacidades dos satélites.”

Ensinar modelos computacionais a reconhecerem animais relativamente comuns em imagens aéreas e de satélite é relativamente fácil, porque existem várias imagens dessas espécies. O problema está nas espécies para as quais existem escassos registos visuais.

“Um dos grandes desafios na ecologia é a ideia da escassez de dados”, aponta Henry Sun, outro investigador da Duke University. “Para uma espécie que tem apenas algumas centenas de indivíduos, não há simplesmente imagens suficientes para se conseguir treinar um bom modelo de deteção de IA”, acrescenta.

Estes investigadores acreditam que a IA pode ser usada para compensar faltas de dados sobre determinado animal, criando versões “deepfake” desses organismos, basicamente preenchendo as “lacunas” e gerando imagens suficientemente realistas para treinar modelos de IA, e até, segundo investigações anteriores, trazer à luz novas perspetivas ecológicas.

Imagem de baleia-de-bossa criada por IA. Crédito: Duke MaRRS Lab.

Sun tem estudado como é que “sósias IA” podem ser usados para encontrar baleias-francas-do-atlântico-norte (Eubalaena glacialis) através de satélites.

A exploração da IA e das “deepfakes” na área da conservação está ainda na sua infância, como reconhecem os investigadores, com muitas arestas para limar, mas o potencial de aplicação nos esforços de conservação é real e apetecível, especialmente num planeta em crise que perde cada vez mais biodiversidade.






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