Como o maior morcego da Europa apanha e come pássaros em pleno voo



O morcego-arborícola-gigante (Nyctalus lasiopterus), a maior espécie de morcego da Europa, não só é capaz de apanhar pequenos pássaros em pleno voo, como também de consumi-los sem sequer pousar.

A descoberta é revelada num artigo publicado esta semana na revista ‘Science’, no qual cientistas de Espanha e da Dinamarca dizem ser o culminar de quase 25 anos de investigação sobre esses mamíferos alados.

O estudo foi realizado numa colónia de morcegos-arborícolas-gigantes no Parque Nacional de Doñana, na região meridional espanhola da Andaluzia, onde equiparam indivíduos adultos com pequenos dispositivos que permitiram registar os movimentos e os sons de 14 morcegos.

De um total de mais de 600 caçadas, os investigadores perceberam que duas delas de destacavam. Além das típicas perseguições de insetos, em que os morcegos seguem as suas presas por não mais do que uma dezena de segundos, voando a cerca de 50 metros do solo, a equipa notou também caçadas em que os animais voavam até grandes alturas, emitiram conjuntos rápidos de cliques de ecolocalização e lançavam-se a pique sobre as presas.

Numa dessas caçadas peculiares, o morcego mergulhou a grande velocidade em direção ao solo durante 30 segundos. O outro, durante 176 segundos. Ambos andavam atrás de pequenas aves.

Dizem os cientistas que o primeiro morcego acabou por desistir da perseguição, não conseguindo competir com a agilidade aérea da ave, mas o segundo foi bem-sucedido, tendo capturado um pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), o culminar de uma perseguição de cerca de três minutos.

O aparelho transportado pelo morcego caçador registou 19 vocalizações de alarme da ave, às quais se seguiram 23 minutos de sons de mastigação do predador, sempre sem pousar, voando a baixa altitude.

Através de aparelhos colocados nos morcegos, os cientistas conseguiram reconstituir a caça. Fonte: Stidsholt et al., 2025, Science.

 

Com base na análise dos vestígios encontrados nos locais de caça dos morcegos, os cientistas concluem que, depois de apanharem as suas presas, os morcegos arrancam as asas das aves à dentada, presumivelmente para reduzir o peso e o arrasto durante o consumo em voo.

“É fascinante que os morcegos sejam não só capazes de apanhá-los [os pássaros], mas também de matá-los e comê-los em voo”, afirma, em comunicado, Laura Stidsholt, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, e primeira autora do estudo.

A investigadora diz que a ave caçada teria metade do peso do morcego, pelo que “seria o mesmo que eu apanhar e comer um animal de 35 quilos enquanto corro”.

Carlos Ibáñez, da Estação Biológica de Doñana, há quase 25 anos que teoriza que os morcegos-arborícolas-gigantes conseguem caçar pequenas aves, mas a resposta à pergunta “como?” não tem sido fácil de descortinar. Até agora.

“Nós sabíamos que os morcegos-arborícolas-gigantes apanhavam e comiam insetos em voo, por isso assumimos que faziam o mesmo com os pássaros, mas precisávamos de prová-lo”, diz Ibáñez, o que conseguiram, por fim, com esta investigação.






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