Lista Vermelha atualizada: Focas do Ártico mais perto da extinção, mais de metade das aves em declínio, mas tartarugas-verdes recuperam

Três espécies de focas do Ártico estão mais perto da extinção, mais de metade das espécies de aves estão em declínio global, há seis novas extinções declaradas e boas notícias para as tartarugas-verdes.
Estas são algumas das principais conclusões da mais recente atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, um catálogo global gerido pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) que documenta o estado da biodiversidade do planeta.
Revelada esta sexta-feira em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, no âmbito do Congresso Mundial da Conservação, a atualização alerta que as focas-de-crista (Cystophora cristata) avançaram do estatuto de “Vulnerável” para o de “Em Perigo”. Além disso, as focas-barbudas (Erignathus barbatus) e as focas-da-gronelândia (Pagophilus groenlandicus) viram o seu estatuto agravado de “Pouco Preocupante” para “Quase Ameaçada”.
De acordo com os especialistas, a perda de gelo provocada pelo aquecimento global é a principal ameaça a essas três espécies do Ártico, que dependem de plataformas geladas para se reproduzirem, para cuidarem das crias, para descansarem e para caçarem.
Além disso, a redução da superfície marinha coberta de gelo expõe as focas a uma ameaça crescente, os humanos, que começam a obter acesso a zonas que antes lhes estavam vedadas. Com o aumento da presença humana aumenta também a poluição química e sonora gerada pelos navios, o perigo da captura acessória em artes de pesca e a caça direcionada.
Perda de floresta pressiona ainda mais as populações de aves
A nova Lista Vermelha contempla também uma reavaliação do estado de conservação das aves de todo o mundo. Segundo a UICN, 11,5% (1.256) das 11.185 espécies de aves avaliadas estão ameaçadas a nível global, e 61% de todas as espécies de aves estão em declínio, com as suas populações a decrescerem. Essa percentagem representa um agravamento a situação face em 2016, ano em que se estimou que 44% das espécies de aves tinham as suas populações em trajetória decrescente.
A principal causa dos declínios das populações de aves são a perda e a degradação dos seus habitats, fruto, sobretudo, da expansão e intensificação agrícola e da exploração madeireira.
Salientam os especialistas que em regiões como Madagáscar, África Ocidental e América Central a perda de florestas tropicais é uma ameaça cada vez maior às aves. Para Madagáscar, a atualização da Lista Vermelha colocou 14 novas espécies endémicas de aves da floresta na categoria de “Quase Ameaçada” e três em “Vulnerável. Na África Ocidental, cinco novas espécies estão agora listadas como “Quase Ameaçadas” e na América Central um delas estreou-se também nessa categoria.
Esforços de conservação permitem recuperação das tartarugas-verdes
Nem tudo são más notícias. A atualização da Lista Vermelha revela que as tartarugas-verdes (Chelonia mydas), anteriormente com o estatuto de “Em Perigo”, passaram para a categoria de “Pouco Preocupante”, uma melhoria que permitiu à espécie saltar, pela positiva, três níveis de ameaça.
Os especialistas dizem que isso foi possível graças a décadas de ações de conservação sustentadas, com a população global desses répteis marinhos a aumentar cerca de 28% desde os anos de 1970. Contudo, algumas subpopulações ainda enfrentam ameaças, como a captura ilegal dos seus ovos com fins comerciais, a mortalidade acidental em redes de pesca, a caça e a destruição dos locais de nidificação devido à construção de infraestruturas.
Grupo dos extintos aumenta
A Lista Vermelha atualizada contempla também seis novas espécies na categoria “Extinta”: o musaranho Crocidura trichura, da Ilha do Natal no oceano Índico, o caracol Conus lugubris, o maçarico-de-bico-fino (Numenius tenuirostris) visto pela última vez em Marrocos em 1995, e a planta Diospyros angulata, do mesmo género do ébano, cujo último registo na Natureza data de meados do século XIX.
Como se não bastasse, três mamíferos marsupiais australianos – Perameles myosuros, Perameles notina e Perameles papillon – e a planta Delissea sinuata, nativa do Havai, foram pela primeira vez avaliados e entraram diretamente para a categoria “Extinta”.