COP30: Ambientalistas pedem esforços para reduzir emissões dos transportes em Portugal
A associação ambientalista Zero pediu hoje esforços para Portugal reduzir as emissões de gases poluentes nos transportes, que continuam a aumentar, apontando a necessidade de penalizar o automóvel e promover o transporte público.
Portugal subiu três posições no Índice de Desempenho das Alterações Climáticas 2026 (CCPI na sigla em inglês), hoje divulgado, mantendo-se entre os países mais bem classificados, mas os especialistas alertam para o contínuo aumento das emissões nos transportes.
Divulgado na 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30) em Belém, no Brasil, o CCPI avalia o desempenho das políticas climáticas de 63 países, mais a União Europeia no seu conjunto, responsáveis por 90% das emissões globais.
O índice é publicado pelas organizações não-governamentais Germanwatch e pelo NewClimate Institute, com a participação da associação ambientalista portuguesa ZERO na sua elaboração.
Os especialistas nacionais relatam uma redução global das emissões de gases com efeito de estufa, mas alertam para um aumento consistente das emissões no setor dos transportes, nomeadamente um crescimento de 7% em 2023 em comparação com o ano anterior.
“Portugal tem o objetivo de reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa em 55% entre 2005 e 2030, e realmente os últimos dados finais são de uma redução de cerca de 44% entre 2005 e 2023. Porém, há um setor que sobressai em sentido contrário, que é a área dos transportes”, disse à Lusa o presidente da associação Zero.
O peso deste setor tem vindo a aumentar: representava, em 2022, 29% do total das emissões de Portugal e em 2023 já é de 36%, sublinhou Francisco Ferreira.
Embora na produção de eletricidade Portugal tenha vindo a descarbonizar cada vez mais, com o investimento em energia proveniente de fontes renováveis, o setor dos transportes “tem sido verdadeiramente dramático em termos de soluções”, alertou o ambientalista.
O “elevadíssimo peso” do transporte rodoviário e a falta de uma política fiscal que o combata, nomeadamente através da aplicação do valor exigido pela União Europeia para o imposto sobre produtos petrolíferos ou de uma taxa de carbono eficaz são alguns dos problemas apontados pela Zero.
Além disso, recordou Francisco Ferreira, “não tem havido uma promoção da mobilidade elétrica em termos de facilidade de carregamentos, de operacionalização e transparência nos preços”, o que leva a uma transição mais lenta do que o desejado.
O responsável lamentou também que muitas empresas promovam o uso dos automóveis ao oferecer aos trabalhadores o carro, os combustíveis ou o estacionamento.
Mesmo com o aumento do número de veículos elétricos, os dados das vendas de combustíveis, mesmo desde 2023, mostram que Portugal não está a conseguir reduzir as emissões.
No transporte público, apesar de melhorias na bilhética e nos preços, a Zero apontou “problemas dramáticos na oferta, principalmente no transporte ferroviário”, que não consegue responder à procura nas horas de ponta nas áreas metropolitanas.
A construção de várias linhas de transporte público em Lisboa e no Porto tem estado atrasada e o planeamento “está completamente a falhar”.
Francisco Ferreira defendeu por isso que Portugal tem margem para melhorar no CCPI, nomeadamente através de uma fiscalidade verde e através de políticas de ação que permitam, por um lado, penalizar o automóvel, por outro lado promover o transporte público.
Em comunicado, a Zero reiterou ser essencial que Portugal intensifique os esforços para reduzir as emissões do setor dos transportes, promovendo o uso de transportes públicos, mobilidade urbana sustentável e alternativas de baixo carbono.
Pediu também às autoridades para garantirem um sinal de preço do carbono consistente e eliminarem gradualmente os subsídios e isenções fiscais a combustíveis fósseis.
Com uma ação mais eficaz para reduzir as emissões em setores como os transportes, Portugal poderia ter poupanças de 16 mil milhões de euros até 2030 e evitar mais de 1.300 mortes prematuras por ano, alerta a associação.