Alho mostra potencial como alternativa aos colutórios químicos tradicionais
O extrato de alho apresenta uma eficácia antimicrobiana semelhante à de antissépticos e desinfetantes amplamente utilizados, como a clorohexidina, de acordo com cientistas da área médica da University of Sharjah.
Publicado na revista Journal of Herbal Medicine, o estudo sugere que, embora o colutório à base de alho possa causar maior incómodo do que a clorohexidina, oferece efeitos residuais mais prolongados.
“A clorohexidina é amplamente utilizada como padrão de referência entre os colutórios, mas está associada a efeitos secundários e a preocupações relacionadas com a resistência antimicrobiana”, referem os autores. “O alho (Allium sativum), conhecido pelas suas propriedades antimicrobianas naturais, surge como uma possível alternativa”, acrescentam.
As conclusões baseiam-se numa revisão sistemática da literatura, na qual os autores comparam a eficácia antimicrobiana do extrato de alho com a da clorohexidina na prática clínica, avaliando a sua viabilidade como substituto de origem vegetal.
O estudo seguiu as orientações PRISMA 2020 (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses), concebidas para reforçar a credibilidade, completude e transparência de meta-análises e revisões sistemáticas. Utilizou também a estrutura PICO, que ajuda a definir questões clínicas para orientar revisões sistemáticas.
“Foram identificados 389 artigos em seis bases de dados eletrónicas em janeiro de 2024, aos quais se juntaram mais 13 encontrados por pesquisa manual”, descrevem os autores. “Após a eliminação de duplicados e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, apenas cinco artigos foram incorporados na análise”, adiantam.
A literatura incluída consistia em ensaios clínicos aleatorizados e estudos clínicos com desenhos variados e riscos de viés classificados como baixos a moderados. Os resultados indicam que colutórios com concentrações mais elevadas de extrato de alho apresentam eficácia antimicrobiana comparável à da clorohexidina.
“A eficácia variou consoante a concentração utilizada e o tempo de aplicação, influenciando os resultados”, indica a revisão. “Alguns estudos favoreceram a clorohexidina na manutenção do pH da placa/dos níveis salivares, enquanto outros mostraram maior eficácia do extrato de alho em determinadas concentrações. No entanto, o colutório de alho pode provocar maior desconforto.”
Embora o extrato de alho não esteja isento de efeitos secundários, estes tendem a ser menos intensos do que os associados aos compostos químicos. Entre os efeitos adversos relatados contam-se sensação de ardor e odor desagradável, o que pode influenciar a adesão dos pacientes à substituição da clorohexidina por alternativas à base de alho.
Apesar destas limitações, a revisão reúne provas substanciais da eficácia antimicrobiana clínica do extrato de alho, “com reduções significativas na contagem bacteriana face aos valores de referência… sugerindo a possível utilização de colutórios de extrato de alho como alternativa viável à clorohexidina em determinados contextos.”
Os autores reforçam a necessidade de mais investigação clínica, com amostras maiores e acompanhamento prolongado, para confirmar a “eficácia e melhorar a aplicabilidade clínica” do uso do alho como colutório alternativo, tendo em conta que a clorohexidina continua a ser o padrão antimicrobiano amplamente utilizado.
A investigação já estabeleceu o alho como um dos produtos naturais com maior potencial antibacteriano e antifúngico. Há décadas que os cientistas procuram explorar um dos seus compostos — a alicina — devido às suas fortes propriedades antimicrobianas. Embora seja botanicamente classificado como vegetal, o alho é usado tanto como erva aromática como condimento.
O consumo mundial de alho atingiu cerca de 30 milhões de toneladas em 2024, com a China a liderar, representando quase 80% da produção global. Nesse mesmo ano, o mercado mundial de extrato de alho ultrapassou os 15 mil milhões de dólares.
Os extratos de alho têm sido incorporados em vários produtos de saúde e estão disponíveis sem receita médica. Em contraste, agentes sintéticos como a clorohexidina geralmente exigem prescrição de dentistas ou médicos.
“Os colutórios antimicrobianos são um complemento essencial na higiene oral e dentária, atuando contra doenças provocadas por bactérias, fungos ou vírus que afetam os tecidos duros ou moles da boca”, refere a revisão. “Diferentes colutórios antimicrobianos, disponíveis sem receita ou sob prescrição, podem ser utilizados na gestão da gengivite, cáries, doenças periodontais, halitose, entre outras.”
A revisão cita diversos estudos que demonstram a atividade antimicrobiana dos extratos de alho contra múltiplas bactérias, fungos e vírus. Mostra também que estes extratos têm sido investigados em contextos como estomatite protética, desinfeção de túbulos dentinários e como medicamento intracanal.
“Estes estudos contribuíram para a compreensão do papel antimicrobiano do extrato de alho em comparação com agentes sintéticos como a clorohexidina”, observam os autores. “No entanto, a maioria é in vitro, apresenta métodos heterogéneos e carece de padronização clínica, o que evidencia a necessidade de mais investigação para confirmar a eficácia do alho na prática dentária. Esta incerteza representa uma lacuna relevante na literatura sobre terapias antimicrobianas baseadas em evidência”, concluem.