COP30: António Guterres pede vontade e flexibilidade às delegações
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou hoje às delegações presentes na conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP30), para que demonstrem “vontade e flexibilidade” para alcançar resultados que mantenham o aquecimento global limitado a 1,5ºC.
Numa conferência de imprensa em Belém, Brasil, onde desde dia 10 decorre a COP30, que reúne quase todos os países do mundo, António Guterres manifestou-se confiante num acordo até sexta-feira, último dia da reunião, e disse que antes do final do século ainda é possível reduzir as temperaturas para menos de 1,5ºC em relação à época pré-industrial.
Guterres pediu aos países um resultado justo na COP30, “concreto no financiamento da adaptação, credível nas reduções de emissões” e viável no financiamento.
Nas respostas aos jornalistas, falando em português, António Guterres destacou a importância de um acordo que tenha em conta um volume substancial de recursos para a adaptação, avisando que “de pouco valerá apoiar a adaptação se as emissões continuarem a crescer de uma forma extremamente rápida, causando cada vez mais devastação por todo o mundo”.
“Há portanto um equilíbrio entre adaptação e mitigação que me parece importante resolver e estou convencido que a presidência tudo fará para o alcançar. E, obviamente, um dos problemas essenciais em relação ao nível de emissões que temos é o facto de os combustíveis fósseis representarem 80% das emissões. Portanto, não há solução para os problemas se não houver simultaneamente uma transição justa dos combustíveis fósseis para as energias renováveis”, observou.
Na intervenção inicial, António Guterres apontou os fenómenos climáticos extremos e as comunidades que mais sofrem e que já ouviram muitas desculpas, disse que já é inevitável um aumento temporário da temperatura acima dos 1,5ºC a começar no máximo no início da próxima década e disse que é possível reverter a situação se os países agirem já.
Mas avisou que nenhuma delegação sairá de Belém com tudo o que deseja, sendo que “todas as delegações têm o dever de chegar a um acordo equilibrado”, em primeiro lugar, sobre a proteção das pessoas, pelo que triplicar a adaptação até 2030 é essencial.
O secretário-geral da ONU afirmou que é fundamental a redução de emissões, sendo necessário “avançar muito mais depressa”, impulsionando as energias renováveis. E é preciso, frisou, acabar com “distorções do mercado que favorecem os combustíveis fósseis”, e combater a desinformação que visa “sabotar a transição”.
Guterres alertou ainda para a necessidade de “travar e reverter a desflorestação até 2030”, para que a natureza continue a ser um escudo, e não uma vítima e de concretizar financiamento, “porque nada será possível sem um financiamento previsível, acessível e garantido”.
O que tem faltado é a vontade política de tomar as decisões necessárias, disse António Guterres, apontando depois os negociadores para concluir que 1,5ºC deverá ser a única “linha vermelha” da COP30.