Em 2024 catástrofes naturais custaram mais de 300 mil milhões de dólares e menos de metade estavam cobertas por seguros



Os efeitos das alterações climáticas estão a causar prejuízos em grande parte do mundo, o que se soma à significativa lacuna de proteção de seguros que certas regiões exibem. A Europa é o continente que mais rapidamente aquece no mundo e onde o número de catástrofes climáticas mais tem aumentado, atingindo um recorde em 2023.

Apesar da situação europeia, a Ásia continua a ser a região do mundo com a maior lacuna de proteção seguradora (82,8%), o que indica que apenas 17,2% das perdas totais decorrentes de riscos relacionados com desastres naturais estão cobertas por contratos de seguro. Segue-se a América Latina, que na última década registou uma lacuna média de 81,0%. Estes dados contrastam com a América do Norte, que possui a menor lacuna de proteção, com uma média de 43,2% de perdas não cobertas.

As elevadas lacunas de proteção contra catástrofes naturais devem-se, principalmente, a uma baixa penetração dos seguros, a uma maior concentração da população em áreas de alto risco e a uma maior frequência e severidade de eventos extremos por consequência das alterações climáticas.

Estas são algumas das conclusões do relatório “Alterações Climáticas, Riscos Extraordinários e Políticas Públicas”, apresentado no dia 17 de novembro pela MAPFRE Economics na COP30. De acordo com a maioria dos especialistas, o aquecimento global desempenha um papel fundamental na intensificação e frequência dos eventos de catástrofes naturais, e em particular, nos chamados “riscos secundários”: fenómenos climáticos de menor intensidade e maior frequência, como incêndios florestais, secas, ondas de calor e tempestades, que causam impactos cada vez maiores.

Ricardo González, diretor de Análise da MAPFRE Economics, evidenciou que, no mundo, “as perdas seguradas decorrentes de eventos catastróficos demonstraram uma tendência ascendente contínua a longo prazo, situando-se numa faixa de crescimento anual de 5% a 7% desde 1992”. Em 2024, este tipo de catástrofes resultou em prejuízos financeiros que superaram os 300 mil milhões de dólares pela nona vez consecutiva, dos quais cerca de 145 mil milhões de dólares estavam segurados.

A lacuna de proteção na Europa

No caso específico da União Europeia (UE), entre 1981 e 2023, os desastres naturais causaram cerca de 900 mil milhões de euros em perdas económicas diretas, com mais de um quinto dessas perdas a ocorrer apenas nos últimos três anos. O relatório conjunto do Banco Central Europeu (BCE) e da Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma (EIOPA) conclui que, historicamente, apenas um quarto das perdas económicas foram seguradas, e que essa proporção foi inferior a 5% em alguns Estados-Membros. A lacuna de proteção na UE atingiu os 80% em 2024.

Reduzir a lacuna: um desafio de política pública

Superar a lacuna de proteção seguradora para os riscos catastróficos é um desafio que exige uma ação coordenada das entidades seguradoras com todos os níveis de governação, uma vez que, sem as medidas e os mecanismos de proteção e compensação necessários, os riscos climáticos tornam-se não seguráveis ou inacessíveis.

Neste sentido, o relatório destaca a relevância de desenvolver quadros de colaboração entre as administrações públicas e o setor segurador para a gestão e partilha de riscos de desastres como, por exemplo, através de entidades que existem em países como Espanha, como o Consorcio de Compensación de Seguros, que indemniza sinistros extraordinários. Menciona também a importância de promover incentivos para a prevenção e redução de riscos por fenómenos climáticos adversos, como os sistemas de alerta precoce, que fornecem dados em tempo real para estimar a intensidade e a trajetória de tempestades, inundações, ondas de calor ou incêndios florestais; e de aumentar as iniciativas destinadas a ampliar a cobertura seguradora, como por exemplo, através de soluções paramétricas, que proporcionam uma resposta rápida e eficiente perante desastres climáticos ao efetuar pagamentos automáticos baseados em parâmetros mensuráveis e previamente definidos, como a velocidade do vento, a quantidade de chuva ou a intensidade de uma seca.

O papel da MAPFRE na transição climática

“As alterações climáticas constituem um dos principais obstáculos para a estabilidade social e económica e são um desafio de primeira magnitude para a atividade seguradora, que tem de se tornar um ator fundamental para elevar os níveis de proteção e bem-estar da sociedade”. Assim o sublinhou Mónica Zuleta, diretora corporativa de Sustentabilidade da MAPFRE, referindo que a MAPFRE desempenha um papel fundamental na determinação de objetivos e compromissos ambiciosos, como tornar-se uma empresa neutra em 2030 em todos os países e NetZero até 2050 nas suas carteiras de seguros e de investimento; estimular a transição energética justa, a fim de acompanhar as empresas para que se transformem e continuem a gerar riqueza de uma forma cada vez mais respeitadora do meio ambiente; e desenvolver soluções inovadoras que apoiem a descarbonização e se ajustem às novas exigências climáticas, com coberturas para apoiar as energias renováveis, a mobilidade elétrica e a agricultura regenerativa, entre outras.

A diretora corporativa de Sustentabilidade do Grupo mencionou algumas delas, como os seguros paramétricos, que a MAPFRE impulsiona graças ao investimento na Blue Marble; o desenvolvimento de títulos de catástrofe, que funcionam como um seguro e que permitem transferir o risco de desastres naturais para os investidores do mercado de capitais; o fundo MAPFRE Energías Renovables II, um projeto pioneiro na Europa que investe em biometano, um biocombustível 100% verde; e o Biosseguro, que a empresa apresenta na COP30 com o objetivo de impulsionar projetos de reflorestamento e regeneração natural após eventos extremos e manter a sua capacidade de gerar créditos de carbono.

O relatório completo está disponível aqui: https://www.fundacionmapfre.org/publicaciones/todas/informe-cambio-climatico/






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