“Catástrofe em desenvolvimento”: Alterações climáticas agravam ameaça global de doenças infeciosas



Doenças infecionas já conhecidas, como a malária, a dengue e a tuberculose, são consideradas ameaças à saúde global tão preocupantes quanto patógenos novos ou emergentes. E tudo por causa das alterações climáticas.

De acordo com um estudo publicado recentemente na revista ‘Scientific Reports’, que ter por base as perspetivas de mais de 3.700 profissionais e investigadores da área da Saúde de 151 países, a combinação das alterações climáticas com a pobreza e a resistência a medicamentos está a criar uma crise de saúde de amplitude global que poderá tornar-se uma “catástrofe em desenvolvimento” se nada for feito para combatê-la.

Os especialistas consideram que doenças transmitidas por vetores, tal como a malária e a dengue que são transmitidas por mosquitos, são as ameaças à saúde global que mais rapidamente estão a escalar, seguidas pela tuberculose e pelo HIV/SIDA.

Com o agravamento das alterações climáticas, especialmente com o aumento das temperaturas e as mudanças nos padrões de precipitação, quase todas as regiões do mundo estão a ver um aumento da propagação de doenças à medida que as áreas de distribuição de mosquitos e de outros vetores estão a expandir-se e os seus locais de reprodução a aumentar. Além disso, os efeitos da crise climática estão também a impulsionar grandes movimentações humanas, o que pode aumentar o risco de exposição a infeções.

O estudo aponta também que desigualdades socioeconómicas são fator de preocupação, afetando as condições de vida e limitando o acesso a cuidados de saúde adequados, o que, dessa forma, aumenta a vulnerabilidade a doenças infeciosas.

A acrescentar a esses dois fatores, a resistência microbiana surge também como uma das grandes preocupações dos especialistas, pois reduz a eficácia de tratamentos para uma grande diversidade de infeções em todo o mundo.

Tanto as desigualdades socioeconómicas como a resistência microbiana podem ser ainda mais intensificadas pelos efeitos das alterações climáticas.

Assim, os especialistas avisam que as próximas emergências de saúde poderão não ser causadas por um novo patógeno nem ser repentinas, como foi o caso da COVID-19, mas antes podem ser lentas e progressivas e ser provocadas por doenças que já conhecemos e que, no contexto da crise climática, das desigualdades socioeconómicas e da resistência microbiana, podem vir a tornar-se endémicas de regiões onde antes não eram.

“A nossa investigação mostra claramente que a próxima grande emergência de saúde poderá não ser um novo surto repentino, mas o agravamento progressivo de doenças silenciosas que encurtam vidas todos os dias”, diz, em nota, Trudie Lang, da Universidade de Oxford e principal coautora do artigo.

Salientando as interligações, muitas vezes esquecidas, entre clima e saúde, os autores do estudo defendem que combater esses três grandes fatores que impulsionam a propagação de doenças infeciosas poderá ajudar a preparar – governos e comunidades – para ameaças presentes e futuras. Para isso, apelam ao reforço dos investimentos em diagnósticos, vigilância e investigação, em especial nos países onde essas doenças já ceifam muitas vidas todos os anos.

“As alterações climáticas estão a impulsionar a disseminação de doenças infeciosas e estão a atingir mais fortemente as comunidades menos capazes de se adaptarem. O aumento das temperaturas, cheias e secas criam as condições ideias para a proliferação de mosquitos, carraças e bactérias prejudiciais, enquanto extremos climáticos pressionam ainda mais sistemas de saúde já frágeis”, destaca Josie Golding, especialista em doenças infecionas da organização Wellcome, que apoiou o desenvolvimento desta investigação.






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