Empresa mineira chinesa vai destruir montanha no Peru
Os habitantes chamam a montanha de Toromocho, que significa “touro sem chifres”. Mas para os seus novos proprietários chineses o nome é irrelevante: o pico está coberto de cobre, prata e molibdénio. A montanha peruana garante à empresa Chinalco uma riqueza mineral de 35 anos.
Na montanha, a cidade em ruídas de Morococha é lar para 5 mil pessoas, cujas habitações não têm sequer luz ou água canalizada. E elas vão ter de abandonar a montanha, mesmo que contrariadas. Apesar de um grande esforço por parte dos chineses para construir uma nova cidade a cerca de 10 Km abaixo da estrada que dá acesso à montanha, os moradores estão cépticos.
“Todo este movimento criou lutas e divisões”, disse Aina Calderón, 67 anos, que viveu toda a sua vida em Morococha. “A empresa não respeita que alguns de nós não queiram sair.”
Entre destruir uma montanha de 4 mil metros e construir uma cidade a partir do zero, é difícil dizer qual é o feito mais notável em torno deste empreendimento que sintetiza os melhores e os piores aspectos do mundo em expansão.
A empresa chinesa vai começar a mexer na paisagem já no próximo ano, depois de ter comprado o terreno por quase €650 milhões (R$ 1.790 milhões). A cidade de Morococha será engolida pela cratera da mina a céu aberto, da qual serão extraídas um milhão de toneladas de cobre, 10 mil toneladas de molibdénio e cerca de 113 mil quilos de prata por ano, durante 35 anos. Este é o maior investimento mineiro da história do Peru.
Mas a Chinalco construiu uma nova cidade, que os funcionários da empresa dizem ser a que tem melhor planeamento no Peru, para realojar os milhares de habitantes. Carhuacoto tem iluminação pública, áreas verdes, sistema de esgoto moderno, estação de tratamento de águas residuais e um canal que impede que a cidade fique inundada em caso de desastre natural. Tem ainda postos de polícia e de saúde, escolas primárias e secundárias e até igrejas. A única coisa que ela não tem, até agora, são pessoas.
A grande maioria dos moradores de Morococha ficará livre de aluguer em Carhuacoto. A empresa chinesa está até a disponibilizar camiões para transportar os bens para as 1.050 novas casas com energia eléctrica e água canalizada.
Mas alguns moradores, como Zuly Espinoza, de 22 anos, esposa de um mineiro, dizem não lhes ter sido atribuída casa em Carhuacoto. “Não há casas suficientes. Para onde iremos quando destruírem a cidade?”, questiona-se ela. Outros reclamam que há pessoas que só agora se mudaram para a velha cidade, com o objectivo de receber uma nova casa, livre de renda.
Enquanto algumas famílias se estão a mudar para a nova cidade, centenas de moradores continuam relutantes em abandonar a antiga. O mayor da cidade, Marcial Salomé, quer que a Chinalco pague uma indeminização de €226 milhões (R$ 624 milhões) pela “perda de identidade, cultura e tradição” causada por esta acção.
A empresa chinesa não abriga ninguém a abandonar Morococha, mas é certo que dentro de oito anos a cratera chegue à cidade.