Como Marta e Rita, professoras sem colocação, criaram o seu próprio emprego

A educação é um dos sectores mais afectados pela crise económica portuguesa e pela entrada da troika no País, em 2011, sendo o respectivo ministério um dos que mais vai continuar a cortar os seus orçamentos, pelo menos, até 2015.

Esta instabilidade financeira transfere-se, como uma bola de neve, para as escolas, alunos e, finalmente, para os professores. É o caso de Ana Rita Matos e Marta Lopes, há ano e meio à espera de colocação no ensino público e que, em fim-de-linha na sua primeira opção laboral, arregaçaram as mangas e criaram o Recreio de Escola, um centro de apoio escolar no Entroncamento, distrito de Santarém.

“Estávamos as duas desempregadas há já ano e meio, sem perspectivas de conseguir colocação no ensino público. Não há ofertas de emprego na área de educação e nunca nos chamavam para as ofertas de emprego de outras áreas”, frisa Ana Rita Matos, de 32 anos.

Quando os respectivos subsídios de desemprego terminaram, Rita e Marta começaram a pensar em arriscar. “Eu dava explicações em casa e tive alguma procura durante este ano lectivo. Comecei a incentivar a Rita para abrirmos um centro de explicações”, explicou Marta Lopes ao Green Savers.

Sem qualquer experiência de empreendedorismo, as duas amigas e agora sócias nunca pensaram em abandonar a sua área de especialização, a educação. Apoiadas no sucesso das explicações em casa, começaram a desenhar o projecto de um centro de apoio escolar, um “centro de confiança onde os pais podem deixar os seus fillhos” após as actividades lectivas na escola. Foi aí que nasceu o Recreio da Escola.

“A nossa missão é possibilitar que a criança possa gozar do tempo com a família, ao mesmo tempo que atinge o sucesso escolar. Pretendemos, sobretudo, ser um apoio útil às famílias”, explica Ana Rita Matos.

Empreendedorismo forçado mas bem-vindo

Rita e Marta confiaram no senso comum para dar os primeiros passos no seu negócio. “Quando tomámos a decisão de seguir em frente com o centro, visitámos alguns locais e encontrámos um espaço, perto de uma escola, que nos cativou logo pela localização”, explica Rita Matos.

A realização das obras foi, de resto, o maior problema encontrado até agora. Com a ajuda da família, aos fins-de-semana, elas estão agora concluídas e o Recreio da Escola finalmente pronto a iniciar a sua actividade.

Conheça a Recreio da Escola no Facebook e veja algumas fotos do espaço.

O espaço está preparado para vários serviços, desde o acompanhamento escolar e as actividades lúdico-pedagógicas até às explicações, apoio escolar a alunos com necessidades educativas especiais, ocupação de tempos livres, férias escolares ou até festas de aniversário.

As duas sócias têm ainda outros objectivos complementares: a promoção do gosto pelo estudo e conhecimento, proporcionar experiências interessantes, ajudar a fazer os trabalhos de casa, preparar fichas de avaliação e investir na formação cívica dos pupilos.

Para quem, como elas, não consegue colocação, vagas temporárias ou anuais, um conselho: “Arrisquem. Tentar não significa conseguir, mas certamente todos os que conseguiram, tentaram antes”, frisa Rita.

Para já, o feedback tem sido positivo. “As pessoas têm gostado do espaço e do projecto”, continua. Com a ajuda do Facebook para promover os serviços, a Recreio de Escola já tem crianças inscritas. “Antes mesmo de o espaço estar pronto, já tínhamos uma página no Facebook, onde recebemos vários contactos a pedir mais informações. Ainda não abrimos o espaço e já temos crianças inscritas, por isso estamos animadas e expectantes”, dizem.

O próximo passo é ter crianças suficientes para pagar as despesas. Depois, esperam lotação esgotada. “Daqui a um ano esperamos, essencialmente, ter o espaço aberto e com crianças. Se assim for, é sinal que o esforço e dedicação estão a ser compensados”, conclui Ana Rita Matos.

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