6 notas sobre o Green Project Awards Portugal
Para quem, como nós, conhece o Green Project Awards (GPA) desde o seu primeiro ano, em 2008, a única coisa que não terá mudado é a organização tripartida: GCI, Agência Portuguesa do Ambiente e Quercus.
Nos últimos seis anos, o GPA consolidou-se como o principal projecto de sustentabilidade e economia verde em língua portuguesa, promovendo relacionamentos entre Governo, empresas e ONG, apostando simultaneamente na mudança de mentalidades.
Fique com seis notas sobre como está o GPA a mudar – e algumas pistas sobre o futuro do projecto.
1.O Green Project Awards (GPA) está a mudar do verde da sustentabilidade para o verde da competitividade
Não somos nós quem o dizemos, foi Luís Reis, presidente da APED (Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição) que o referiu, logo no primeiro painel. “É inteligente, da parte do GPA, [fazê-lo]”, explicou Luís Reis, antes de criticar o excesso de burocracia português, elogiar o esforço da banca nos últimos 18 meses e lançar dois desafios para o País: “há dois recursos fundamentais, a floresta e o mar. Temos feito algumas coisas pelo mar, menos pelas florestas. E estes são dois recursos naturais próximos da economia verde, onde há enormes possibilidades de exploração”, explicou.
Na verdade, e até pela lista de oradores dos últimos anos, incluindo este, percebe-se que o GPA está cada vez mais preocupado com o tema da competitividade. Esta é já uma estratégia ganha e isso sente-se pelo tipo de trabalhos inscritos e perfil dos espectadores das sessões de lançamento e entrega de prémios.
2.O GPA vai continuar a expandir-se
Ontem, o Green Project Awards entregou prémios na Fundação Champalimaud, em Lisboa. Na sexta-feira fará o mesmo no Teatro Vivo, em São Paulo, e até ao final do ano estará em Cabo Verde. Segue-se Moçambique e Angola. “A consolidação do GPA em Portugal é motivo de grande satisfação. Mas também o impacto que ele está a ter no Brasil e Cabo Verde”, explicou José Manuel Costa, presidente da GCI.
Carlos Leal Villa, presidente da brasileira Solvi, explicou ontem que há milhares de lixeiras no Brasil – e 5.500 municípios. O GPA, com a sua presença no Brasil, pode ajudar as empresas portuguesas a encontrar oportunidades de trabalho neste país. Este sempre foi, aliás, um dos objectivos da internacionalização do GPA, criar pontes de relacionamento entre os Governos e empresas portuguesas, brasileiras, angolanas, moçambicanas ou cabo-verdianas.
Outro dos desafios será chegar a países não-lusófonos. Será possível e estratégico? O futuro dirá.
3. A criatividade encontrou o seu caminho
No início da entrega de prémios, numa belíssima sala com vista para o Tejo, Nuno Lacasta, director-geral da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), realçava a qualidade mas também criatividade dos trabalhos avaiados. “O GPA está hoje preocupado em contribuir para a qualidade deste país em termos de criatividade e utilização responsável de recursos”, disse Lacasta.
A lista de premiados confirmou que o júri realça, cada vez mais, a criatividade e inovação. Veja-se o caso das fraldas reutilizáveis Piriuki, feitas de matérias têxteis, 100% recicláveis e que se decompõem em aterro em 180 dias. O projecto da Ecological Kids permite reduzir uma tonelada de resíduos e impedir o abate de quatro árvores… por cada bebé. Pode não ser a ideia mais inovadora do mundo, mas não deixa de ser criativa e, claro, com grande margem de progresso em Portugal (ah, e não havia ninguém mais contente, no final da cerimónia, do que a dupla da Ecological Kids. Só por isso valeu a pena o prémio).
4.Retorno à agricultura é essencial
Foi António Saraiva, presidente da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), quem começou por o dizer. “Temos de retomar algumas actividades, como a agricultura. Temos de perceber que produtos tecnologicamente inovadores poderemos produzir”, explicou o responsável.
A discussão seguiu no segundo painel, impulsionada por João Machado, presidente da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal), e Assunção Cristas (Ministra da Agricultura e do Mar). “Em Portugal, depois da adesão à União Europeia e Euro, pensámos que poderíamos deixar de produzir tudo e ficávamos na mesma. A agricultura, para além de ser o sector mais primário de todos, é o mais transacionável. Quando há estabilidade política, os empresários agrícolas investem. E mesmo agora, a agricultura está a investir”, explicou
De acordo com o responsável, a agricultura investiu €6 mil milhões em cinco anos, tendo sido o sector que mais empregou nos últimos três trimestres. “E não há sector mais amigo do ambiente”, concluiu.
5.Em Portugal, não se investe no mar
É um dos sectores de que mais se fala, em Portugal, mas que permanece inexplorado. Tiago Pitta e Cunha, consultor do Presidente da República para os assuntos do mar, ambiente e ciência, queixou-se que a banca não tem compreendido que os números da economia do mar, em Portugal, são pequenos mas estão completamente inexplorados.
Em Portugal, a economia do mar vale 2,5% do PIB, contra os 5% da média europeia, os 8% da Holanda e os 19% da Noruega, país que partilha com Portugal uma enorme costa.
Na verdade, esta poderá ser uma das áreas para onde o GPA se pode virar no que toca à evolução das estratégias de mediatização e notoriedade ligada à economia verde e sustentabilidade.
6.O Governo está atento
A cerimónia de entrega do Green Project Awards contou com a presença de três secretários de Estado e dois ministros. O Governo parece atento à economia verde. Jorge Moreira da Silva, ministro do Ambiente, explicou, no encerramento, que é essencial mostrar os exemplos de economia verde nas academias, empresas e ONG. “Estamos a oito meses do [final] do memorando e há muito tempo que defendo que é imprescindível que se possam identificar opções estratégicas que vão além da consolidação orçamental. É importante focar a nossa atenção no crescimento verde”, explicou.
O governante admitiu ainda que a valorização do cluster da economia verde, em Portugal, permitirá não só proteger o ambiente mas também criar emprego e uma “nova trajectória de crescimento”.
O Governo está atento – e precisa de continuar atento. Só assim a economia verde deixará de ser um chavão e passará finalmente – e tal como o homónimo programa da SIC Notícias – a ser uma realidade.