Metro de Nova Iorque precisa de renovação urgente
A água continua a correr pelas ruas da baixa de Manhattan, vazando pelas entradas de metro, penetrando nas grelhas de ventilação e dentro dos túneis.
Há um ano, o furacão Sandy atingiu Nova Iorque causando uma massiva tempestade de quatro metros, como a cidade nunca tinha visto. Nove dos 14 túneis de metro abaixo do rio ficaram inundados e o serviço metropolitano foi encerrado durante alguns dias.
Especialistas afirmam que a Metropolitan Transit Authority (MTA) tomou precauções de forma a diminuir o impacto. Antes da tempestade ter começado, ela retirou os comboios das áreas propícias a inundações, os sinais eléctricos presentes nos tuneis, que ficaram inundados, e os trabalhadores bloquearam com madeira e sacos de areia as entradas do metro sujeitas a cheias. Mais tarde, foi retirada a água e substituídos os sinais eléctricos. Segundo os jornais, numa semana cerca de 80% do serviço metropolitano foi restaurado.
Klaus Jacob, cientista do clima no Lamont Doherty Earth Observatory da Columbia University em Nova Iorque e o maior responsável por demonstrar como tal inundação afectaria o metropolitano da cidade, afirmou que estas preparações da MTA permitiram à cidade ganhar muito tempo e poupar dinheiro na retoma do sistema.
“Em vez do encerramento do metropolitano entre um a 10 dias, este poderia ter estado fechado durante, pelo menos, três semanas, o que custaria na ordem de mil milhões de euros, correspondente a duas vezes e meia da produção económica diária da cidade de Nova Iorque”, explicou o responsável.
Uma inundação de 100 anos
Klaus Jacob demonstrou os riscos de acontecimentos climatéricos extremos e a forma como as alterações climáticas os podem exacerbar, tendo estado envolvido em planos de sustentabilidade a longo prazo e neles trabalha com as partes interessadas, como a MTA, New Jersey Transit, entre outras.
Dois anos antes do furacão Sandy, o governador de Nova Iorque apresentou um relatório sobre a forma como o estado se deveria adaptar às alterações climatéricas. Este relatório previa o efeito que uma inundação de 100 anos, com probabilidade de um para 100 de ocorrer a qualquer momento, teria nas infra-estruturas da cidade.
Estipulava-se que a maioria dos túneis do metro ficassem inundados, provavelmente, em menos de uma hora e, caso os 14 túneis abaixo do rio fossem alvo de cheias, demoraria cerca de cinco dias a retirar a água.
Muitas das previsões desde relatório foram assustadoramente confirmadas aquando da ocorrência do furacão Sandy, afirmou Klaus Jacob. Não obstante, ao ter realizado relatórios de aviso e ao desenvolver estratégias que minimizassem o impacto da inundação, a MTA preveniu um demorado encerramento do metro e uma enorme perca de dinheiro.
Porém, outros operadores de trânsito não foram tão precavidos. Segundo Klaus Jacob, o New Jersey Transit não retirou os seus comboios antes da onda chegar, tendo perdido grande parte do material circulante. Quando o site Mashable o questionou sobre as perdas, o NJ Transit recusou-se a responder. De acordo com o site deste último, terá perdido cerca de um quarto da sua frota a qual, um ano mais tarde, já se encontrava operacional.
Não há ausência de perigo
Segundo Klaus Jacob, de acordo com o resultado previsto dadas as circunstâncias, as preparações da MTA relativamente ao furacão Sandy foram admiráveis. Contudo, a cidade não despendeu dinheiro em profundas mudanças de protecção futura da infra-estrutura de transportes. Tal explica que a vulnerabilidade seja a mesma de quando ocorreu o furacão.
O mesmo afirma que, para proceder às mudanças necessárias, seriam precisos vários anos e o investimento de milhões de euros. Por exemplo, muitos dos túneis de metro com estações à superfície situam-se em zonas com possibilidade de inundação e a água passa facilmente pelas grades de ventilação, pelo que estas deviam ser seladas e substituídas por sistemas de ventilação como aqueles que são utilizados em túneis abaixo do rio. De acordo com Klaus Jacobs, a tecnologia está disponível, tudo depende da política.
Certamente tempestades como Sandy ocorrerão novamente e os seus efeitos tornam-se mais severos à medida que o nível do rio sobe. Em último caso, esses problemas não poderão ser resolvidos com soluções de engenharia, mas com retiro. Segundo Jacobs Klaus o que estas soluções fazem é comprar-nos tempo.
Jacob Klaus afirma ainda que a questão reside no facto de ainda não nos termos consciencializado do custo das alterações climatéricas para o mundo.