Moradias suburbanas podem causar a próxima crise imobiliária norte-americana



O mercado imobiliário norte-americano ainda se está a refazer da crise do subprime, mas a próxima crise imobiliária pode estar prestes a bater à porta.

A geração do baby boom, onde se enquadram as pessoas nascidas entre a década de 1940 e 1960, redefiniu o mercado imobiliário norte-americano entre 1980 e 2010, deixando uma marca física na paisagem americana, com impactos de longa duração.

Durante cerca de 20 anos, esta geração esteve no seu pico de rendimentos e tamanho familiar. Face a estas condições houve uma procura massiva pelo mesmo tipo de casas: moradias familiares de grandes dimensões, geralmente localizadas nos bairros suburbanos das grandes cidades.

Segundo Arthur C. Nelson, director do Metropolitan Research Center da Universidade de Utah, durante as duas décadas em questão, 77% da procura de novas casas pela população americana foi definida por esta tendência, refere o The Atlantic. Porém, com o início do novo milénio os padrões familiares e sociais começaram a alterar-se.

Os jovens entram no mercado laboral cada vez mais tarde, casam-se cada vez mais tarde, têm filhos cada vez mais tarde e, por norma, têm um baixo rendimento em início de carreira, aliado ainda a uma maior mobilidade laboral. Tais factores adiam a compra de habitação própria e mesmo quando há procura por parte das jovens famílias, o tipo de casa é outro.

Baby boomers querem vender

Os jovens procuram casas mais de acordo com as suas possibilidades financeiras (uma consequência da crise hipotecária do mercado imobiliário), mais pequenas e mais urbanas. Porém, o mercado está adaptado à tendência das grandes casas familiares suburbanas.

Paralelamente a esta nova tendência de procura, a geração do baby boom começa a desfazer-se das suas grandes casas, procurando habitações mais pequenas e adaptadas ao tamanho familiar. “Vão querer vender as casas e esperam que haja pessoas que as queiram comprar”, afirma Nelson. No entanto, as esperanças dos que começam agora a envelhecer podem não concretizar-se devido à alteração das tendências do mercado.

Uma grande maioria dos jovens casais gostaria de adquirir estas casas, indica Nelson. Porém, um quarto das famílias que deseja este tipo de casas quer algo mais, como um condomínio ou casas mais perto das cidades. Esta nova tendência de procura “costumava ser quase zero e, actualmente, já é 25%”, revela o investigador. Embora “seja uma pequena percentagem do mercado é uma enorme mudança”, explica Nelson, indicando que esta é uma das principais razões pelas quais as famílias que começam a caminhar para a velhice não vão encontrar comprador para as suas casas. “Mesmo que os números [da procura e da oferta] coincidissem, as preferências não”, sublinha.

Ainda segundo o investigador, existem áreas onde este problema se vai sentir mais do que noutras. A venda deste tipo de casas em áreas urbanas que ainda estão em crescimento, nomeadamente no Texas e nos estados mais a Sudeste, vai ser mais fácil do que noutras áreas que estagnaram e estão a perder habitantes.

Nelson definiu esta tendência de venda de habitação pela população mais idosa como “the great senior sell-off” e indica que deverá começar no final da década e poderá conduzir à próxima crise do mercado imobiliário dos Estados Unidos. Segundo as projecções calculadas pelo investigador, 20,1 milhões de proprietários vão tentar vender as suas casas entre 2015 e 2030 e cerca de 7,4 milhões não vão encontrar um comprador.

“Entre a mudança de preferência e a queda do rendimento médio disponível das famílias, devido a uma educação insuficiente – porque não estão dispostos a gastar dinheiro na educação -, pode-se prever um novo crash no mercado imobiliário, que deverá ocorrer por volta de 2020”, afirma Nelson.

É difícil, contudo, prever como é que o mercado vai reagir. Os bancos podem optar por comprar estas casas aos mais idosos (provavelmente muito abaixo do valor real). Podem também surgir mudanças nas tendências de procura, potenciadas por alterações nas políticas de educação ou de imigração que fomentem o crescimento das famílias numerosas de classe média/alta que estejam dispostas a comprar estas casas familiares suburbanas.

Foto:  D H Wright /Creative Commons





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