Sabia que a Europa está a queimar as florestas norte-americanas?
Se alguma vez viajar no sul dos Estados Unidos e dar conta do cheiro metálico da desflorestação, não comece a culpar inocentes. Um dos principais culpados – mas não o único – está bem perto de nós e chama-se União Europeia, de acordo com o Grist.
Em Março de 2007, a União Europeia adoptou vários e exigentes objectivos de energia e alterações climáticas para a década seguinte. Um deles dava conta da necessidade de reduzir as emissões de carbono em 20% até 2020, aumentado as renováveis para 20% de todo o portfólio de energia. Porém, a instituição subestimou a intensidade carbónica de queimar madeira para electricidade, a biomassa, pelo que a madeira foi considerada uma energia renovável.
O resultado desta nova política energética levou muitos países europeus, nos últimos sete anos, a virarem-se para a madeira para substituir o carvão. Agora que muitas destas fábricas estão a funcionar a grande velocidade, a Europa precisa de madeira para queimar, mas a Europa a 27 não é propriamente conhecida pelas suas grandes florestas. Então, onde arranjar madeira? Nos Estados Unidos.
O conceito de madeira como renovável tem razão de ser: as árvores podem ser replantadas mas, na verdade, elas não se podem comparar à energia solar ou eólica. A nossa “obsessão” pelas renováveis decorre não apenas das características finitas dos combustíveis fósseis mas também da quantidade de gases com efeito de estufa criados pela sua queima – e esta segunda preocupação pode aplicar-se à madeira.
Segundo o Grist, a madeira é a principal energia renovável da Polónia e Finlândia e detém cerca de 40% do mercado alemão. Também o Reino Unido é “apaixonado” por ela, sobretudo porque não tem um sector das renováveis verdadeiramente desenvolvido. Só no último ano, o grupo energético Drax anunciou a reconversão de três fábricas a carvão para madeira, um plano suportado por €700 milhões (R$ 2 mil milhões) de subsídios do Governo inglês.
“Depois de vários anos a elogiar a sua revolução tecnológica e de baixo carbono, os Governos europeus parece que voltaram à energia da sociedade pré-industrial”, concluiu o The Economist.
Nos Estados Unidos, há quem esteja preocupado com a importação de madeira para a Europa. Scot Quaranda, porta-voz da Dogwood Aliance, lançou uma campanha para pressionar as empresas eléctricas americanas e inglesas a pararem de queimar árvores para obter electricidade. Porém, e até que a legislação europeia mude – agora que está claro que a estratégia é errada, tem tudo para mudar – as florestas do sul dos Estados Unidos continuarão a sofrer.
Foto: webhamster / Creative Commons