Como a indústria da alimentação nos obriga a comer o que ela quer



Comprar alimentos produzidos localmente, escolher os certificados, reduzir o consumo de carne e a quantidade de lacticínios que comemos por dia. Ainda que importantes, estas quatro acções, por si só, não assegurarão que o sistema global de alimentação não acabe com o Planeta.

Por outras palavras: ainda que possamos, individualmente, combater o problema global da alimentação, a verdade é que é preciso que Governos, cadeias de fornecimento e negócios se empenhem em elementos invisíveis que são muitas vezes ignorados.

Em primeiro lugar, temos de ir além da conversa sobre as emissões de gases com efeito de estufa – sabendo que o sistema de alimentação representa entre 20 a 30% da emissão global destes gases.

Há outros problemas que são igualmente graves para o ambiente: a perda de biodiversidade devido às monoculturas; ameaças ao fornecimento de água devido à sobre-irrigação, resíduos e poluição devido ao processamento e embalagem de comida, e a quantidade incrível de energia usadas nas infra-estruturas de arrefecimento.

Hoje, de acordo com o The Guardian, estes quatro factores são ignorados: “Esqueçam a comida que é embalada de um sítio longínquo, irrigada em monoculturas e refrigerada durante dias até chegar aos consumidores: se o seu impacto de carbono não foi medido, não será considerado como tendo um custo ambiental”, explica o jornal.

Segundo explica Marion Nestle, professora de nutrição e saúde pública na NYU – e com um nome curioso para esta temática -, as políticas publicas, em todo o mundo, são influenciadas directamente e até idealizadas pela indústria alimentar.

Ou seja, as empresas acabam por influenciar directamente nas opções de consumo dos cidadãos, sobretudo nos últimos anos, com a consolidação do sector. Nos Estados Unidos, quatro empresas controlam 51% da indústria aviária; 65% da indústria de carnes suínas e 85% da carne bovina.

Por outro lado, as comidas processadas e embaladas são as mais apetecíveis e lucrativas de toda a indústria da alimentação, por isso todos os players continuam a apostar nestas soluções menos saudáveis e ambientais.

As comidas processadas representam 70% de toda a comida consumida nos Estados Unidos – sim, as nossas opções são fundamentais na forma como a indústria alimentar se vai readaptando ao dia-a-dia, mas elas são cada vez mais pequenas na abrangência global das escolhas da própria indústria, e o cerco tende a apertar-se cada vez mais.

Foto: Steven Depolo / Creative Commons





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