Gripe: um flagelo com mais de 500 anos
Todos os anos é o mesmo filme: as autoridades relembram-nos da necessidade da vacinação contra a gripe e as notícias dos períodos epidémicos sucedem-se. No final da semana passada, por exemplo, a subdirectora-geral de saúde, Graça Freitas, indicava que o número de pessoas com gripe seria de 127,7 por 100.000 habitantes. “A linha de base foi ultrapassada e entrámos no período epidémico”, explicou.
O Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) explicou que o número de casos de gripe subiu dez vezes mais entre os dias 29 de Dezembro e 4 de Janeiro, tendo crescido acima do esperado. Mas o fenómeno não é só português nem sequer contemporâneo – a gripe já anda por cá há pelo menos 500 anos.
Segundo o Smithsonion, a mais mortal pandemia de gripe ocorreu entre 1918 e 1919, a gripe espanhola, e foi, simultaneamente, a mais mortal pandemia de sempre – cerca de 50 milhões de pessoas morreram em todo o mundo.
Apesar do seu nome, os cientistas acreditam que a gripe espanhola – ou pneumónica – teve origem na China, mas não existe consenso.
A primeira pandemia conhecida de gripe terá ocorrido no Verão de 1510 e afectou pessoas em África e na Europa, antes de chegar à Escandinávia. Cinquenta anos depois, em 1557, uma nova pandemia foi bem mais grave, causando sintomas iguais aos da pneumonia a pessoas desde a China até à Europa, tendo persistido durante dois anos.
Sete outras grandes pandemias terão ocorrido, globalmente, até à gripe espanhola. O pico de uma delas começou em 1781 e viu dois terços da população da cidade de Roma, na Itália, ficar doente. Em São Petersburgo, cerca de 30.000 novos casos eram detectados por dia – como comparação, existiram 53.470 casos confirmados nos Estados Unidos durante todo o último Outono e Inverno.
O Smithsonion adianta que existem registos médicos históricos que dizem que o vírus remonta à antiguidade. Existe uma doença parecida com a gripe em escritos de 412 a.C. Há também relatórios de “uma tosse malévola e nunca vista” que se espalhou pela Europa em Dezembro de 1173, além de outras pandemias identificadas na Idade Média.
“Ou seja, nos últimos 500 anos, alguns pesquisadores acreditam que uma epidemia de gripe ocorreu a cada 38 anos”, explica o Smithsonian. “À medida que o vírus viaja e se modifica, cria novos focos e novas epidemias, apesar da resistência humana e esforços de prevenção”. Ainda assim, estamos hoje bem melhor preparados para lutar contra este vírus do que os nossos antepassados.
Foto: John Harwood / Creative Commons