O foie gras pode ser ético?

As notícias do recente volte-face na proibição de foie gras nos restaurantes californianos tem agitado os activistas pela causa animal, que criticam a brutalidade do processo de alimentar gansos e patos à força – um processo feito através de um funil e que leva os seus fígados a incharem e ficarem doentes.

O jornal britânico The Guardian, porém, descobriu um produtor que afirma comercializar foie gras ético e, nesta reportagem, pergunta se existe esse conceito ou, na verdade, tudo não passará de uma estratégia de comunicação para trazer mais clientes.

O produtor chama-se Eduardo Sousa e insiste que o seu foie gras é 100% ético, natural e ecológico. Sousa trabalha numa quinta de 500 hectares na Extremadura espanhola, onde os gansos vivem à solta, não são alimentados à força nem recolhidos para jaulas. Segundo Eduardo Sousa, a quinta tem tanta comida à disposição dos gansos que estes comem tudo aquilo que puderem.

“Um ganso que esteja no seu ambiente natural gera as próprias reservas de gordura”, explica Sousa. “A indústria do foie gras aprendeu as vantagens disso, mas eles foram longe demais. Há vídeos online arrepiantes e, claro, muitos maltratam os animais”, explicou o produtor ao Guardian.

Sousa, que já jantou com Barack Obama ou o rei de Espanha, diz que ainda não fez lucro com o seu foie gras ético. A Patería de Sousa produz, num ano, o que os agricultores franceses produzem em três meses num armazém minúsculo.

Os seus gansos, que morrem de velhice, têm fígados com 450 gramas, contra os fígados de 600 a 1.000 gramas dos gansos alimentados à força.

Um comerciante de Londres, Jack O’Shea, confessou ao Guardian que Eduardo Sousa nunca terá lucro – o seu modelo de negócio não é sustentável. “Acho que [o processo] é excelente, mas não é realístico para a indústria. Não podemos ter uma quinta daquele tamanho a produzir umas centenas de fígados”, revelou O’Shea, que compra o seu foie gras a agricultores franceses.

Foto: born1945  / Creative Commons