“A água pode ser um fator de coesão, mas também de uma grande desintegração e desigualdade”



A gestão sustentável da água esteve no centro de uma sessão que destacou a resiliência e a cooperação como pilares para construir comunidades mais fortes e equilibradas.

A água voltou a estar no centro das atenções, não apenas como recurso essencial, mas como elemento de união. Na sessão “Resiliência que une: Água, Pessoas, Futuro”, integrada na 20.ª Semana da Responsabilidade Social, o grupo Águas de Portugal reuniu vozes de referência para refletir sobre como a gestão sustentável da água pode fortalecer comunidades e promover coesão territorial.

Um compromisso renovado com a sustentabilidade

As boas-vindas ficaram a cargo de Fátima Borges, diretora de Sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa da Águas de Portugal, que abriu o painel sublinhando o compromisso do grupo com o desenvolvimento sustentável e com o bem-estar das populações. “Celebramos a resiliência que constrói futuro para as pessoas e para o planeta”, sublinhou.

Sustentabilidade e ação coletiva em foco

De seguida, Mário Parra da Silva, presidente da Direção da APEE e da UN Global Compact Network Portugal, reforçou a importância da ação coletiva e da integração da sustentabilidade nas decisões empresariais e institucionais.

O orador recordou que a resiliência se constrói com pessoas e através de parcerias, sublinhando o valor das alianças entre o setor público, o privado e a sociedade civil. “Sou completamente contra a teoria do terror. Devemos dizer a verdade, e a verdade é que o ser humano vive na Terra em condições muito apertadas. Se a temperatura sobe um pouco mais, já não temos condições para viver; se desce, também não. O planeta já resistiu a tudo, nós é que podemos não resistir. No fundo, é salvar o planeta para nos salvarmos a nós”, afirmou. “Não temos que nos preocupar com o planeta, temos que nos preocupar com as condições de vida do ser humano no planeta. O planeta continuará sempre, somos nós que precisamos de lutar para continuar cá e contar a história.”

Parra da Silva alertou ainda para a urgência de agir face à escassez de água: “Há uma grande preocupação em todo o lado, mas estamos ainda longe do necessário. Há dois mil anos, os romanos já sabiam o que fazer – cisternas nas praças, reservatórios. Hoje, com toda a tecnologia, ainda não conseguimos garantir o essencial. Toda a gente toca em água todos os dias, mas vivemos no fim da ilusão de que o mundo é enorme e a água um direito para todos. Não temos direitos sobre a natureza – temos responsabilidades perante ela.”

A água como fator de coesão territorial

A intervenção de Ana Margarida Luís, administradora do grupo Águas de Portugal, trouxe para o debate a resiliência hídrica como fator de coesão territorial, mas transformou a afirmação numa interrogação. Defendeu que a gestão integrada da água é essencial para reduzir desigualdades regionais e garantir a segurança hídrica, destacando o papel da inovação e do planeamento a longo prazo, no entanto também deixou um importante alerta. “Será que a resiliência hídrica é mesmo um fator de coesão territorial? A água pode ser um fator de coesão, mas também de uma grande desintegração e desigualdade”, referiu, alertando para a enorme vulnerabilidade de todos os que vivem em ambientes de seca.

Em Portugal, com as temperaturas a subirem, a abundância de água poderá não acontecer em poucas décadas. “Há uma grande assimetria de precipitação. Temos zonas no Sul do país que, no final deste século, em cerca de 40 anos, tem precipitação zero, o que nos dá que pensar visto a água ser matéria-prima. No grupo Águas de Portugal trabalhamos em adaptação e mitigação, conscientes de que as emissões passadas já estão a fazer os seu danos e a alterar grandemente o clima. É preciso agir perante a vulnerabilidade atual e futura”, sublinhou.

Bem-estar com propósito

A sessão encerrou com Susana Carvalho, coordenadora de Sustentabilidade da Águas do Norte, S.A., que deu a conhecer o projeto “Pessoas com Norte”, centrado na valorização do bem-estar e da cultura organizacional.

Durante a sua apresentação, mostrou como o propósito coletivo e a motivação das equipas são fundamentais para a resiliência das organizações e para a sustentabilidade do setor da água. “Aquilo que pretendemos é criar ambientes de trabalho seguros, saudáveis, onde haja aumento da produtividade e bem-estar. Desenvolvemos diferentes programas, porque acreditamos que equipas mais equilibradas são também mais inovadoras e sustentáveis”, explicou.

Mais do que um debate técnico, o painel de especialistas lançou uma mensagem de união e responsabilidade partilhada. Entre políticas públicas, ética empresarial e inovação social, destacou-se uma certeza: a água é o ponto de encontro onde se constrói um futuro mais equilibrado, sustentável e humano.






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