A chave para a recuperação dos bisontes pode estar no leste da Europa
Há cerca de 120 mil anos, no Pleistocénico superior, os bisontes-europeus (Bison bonasus) abundavam um pouco por todo o território que é hoje a Europa. Contudo, por volta da década de 1930, a espécie estava dada como extinta na Natureza, altura em que apenas 60 indivíduos sobreviviam em cativeiro.
Desde então, passados quase 100 anos, os esforços de conservação desses grandes herbívoros têm permitido alguma recuperação e assiste-se hoje a uma tendência de aumento da abundância de bisontes na Europa.
Atualmente, ameaças como a perda e fragmentação do seu habitat e a caça continuam a manter o futuro da espécie em terreno incerto. Estima-se que o declínio das populações dessa espécie terá começado há 14.700 anos, por causa do rápido aquecimento da Terra e dos impactos que isso teve nos habitats, e a pressão humana veio agravar ainda mais a situação.
A conclusão é de um estudo, publicado na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, no qual os cientistas não só procuram revelar as causas do declínio dos bisontes na Europa, como sugerem quais as regiões mais indicadas para reintroduzir os animais e, assim, tentar que os esforços de conservação sejam mais bem-sucedidos.
Com base na análise de fósseis e de ADN antigo para reconstruir uma imagem da evolução da abundância dos bisontes ao longo de milhares de anos, os investigadores concluem que a Polónia, partes da Ucrânia e áreas que confinem com a região oeste da Rússia são as que oferecem perspetivas mais promissoras no que toca à reintrodução do bisonte-europeu.
“Hoje, a Ucrânia e a Rússia ocidental são caracterizadas por um abandono generalizado de terras agrícolas”, o que faz com que sejam áreas “muito adequadas para reintrodução”, pode ler-se no artigo.
Estima-se que cerca de metade de todos os bisontes em liberdade sejam encontrados nessas duas regiões. Contudo, a atual conjuntura geopolítica não passa despercebida a estes cientistas, que dizem que tal é “uma infelicidade”, pois neste momento são “uma zona de conflito ativa”.
Mas apontam que outras zonas da Europa também podem oferecer boas condições à reintrodução dos bisontes, como a Eslováquia, a Roménia, a região do Cáucaso e até a Alemanha, desde que haja, primeiro, o restauro dos habitats.
“Espero que os mapas que produzimos possam ajudar a informar esforços futuros em termos de onde os esforços de reintrodução devem ocorrer”, diz July Pilowsky, primeira autora do artigo e atualmente a desenvolver investigação no Instituto Cary de Estudos de Ecossistema, em Nova Iorque.
“É especialmente crucial, por causa da guerra na Ucrânia. Mais de 50% dos bisontes em liberdade estão na Ucrânia e os conservacionistas estão realmente preocupados”, salienta.