A Cimeira de Cancún e a Lei de Murphy



Diz a Lei de Murphy que se alguma coisa pode corre mal, então certamente vai correr mal. A Cimeira de Cancún, que desde segunda-feira decorre no México, está a levar esta lei ao extremo – uma espécie de Lei de Clark, mas excluindo a parte humorística.

A cimeira, recorde-se, começou com um ambiente carregado, sendo notada especialmente pela ausência de líderes ou chefes de Estado que, em Copenhaga, tinham sido preponderantes.

Contas feitas, dos 120 chefes de Estado presentes na capital dinamarquesa, apenas 30 marcaram presença em Cancún.

Uma das mais notadas ausências foi a de Lula da Silva, o presidente brasileiro que brilhou em Copenhaga e que já avisou que a cimeira “não vai dar em nada”.

Porquê? Pela ausência dos chefes de Estado… incluindo ele próprio. “Nenhum grande dirigente vai lá estar, na melhor das hipóteses vai mandar um dos seus ministros do Ambiente. E nem se sabe se os ministros dos Negócios Estrangeiros irão. Por isso, não haverá qualquer progresso”, explicou de forma transparente

Finalmente, ontem à tarde, os países em desenvolvimento acusaram o Japão de bloquear as negociações sobre as alterações climáticas, uma vez que este recusou qualquer prolongamento ao Protocolo de Quioto além de 2012. Isto, se a segunda fase do protocolo não incluir os Estados Unidos e a China. Ou seja, um acordo global (recorde-se que os Estados Unidos nunca ratificaram o primeiro acordo de Quito).

“Cancún não chegará a nenhum acordo bem sucedido” sem o prolongamento do Protocolo de Quioto, disse Abdulla Alsaidi, que representa o grupo dos 77 países em desenvolvimento e a China.

Também Jairim Ramesh, ministro do Ambiente indiano, disse que “se não existir um compromisso para um segundo período do Protocolo de Quioto então as perspectivas de um resultado positivo em Cancún são muito remotas”.

É muito provável, assim, que este prolongamento fique pelas intenções.

“O Protocolo de Quioto é a principal base do trabalho para resolver as alterações climáticas através da cooperação internacional. Se o pilar entrar em colapso, podem imaginar as consequências”, afirmou por sua vez o enviado chinês a Cancún, Su Wei.

Também perigoso é o facto de, em pleno COP16, já se falar na próxima Cimeira do Clima, que se realizará de 28 de Novembro a 9 de Dezembro de 2011, na África do Sul. Mais uma prova de que já ninguém tem a cabeça em Cancún.

Entretanto, sucedem-se as notícias, programadas especificamente para revelação neste período. Hoje, ficou a saber-se que 2010 será um dos três anos mais quentes desde 1850, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Antes, uma boa notícia, porventura a melhor de Cancún até agora. A desflorestação da Amazónia, no Brasil, caiu 13,6% em 2010 em relação a 2009.

Assim, a área devastada é a menor desde 1988, data em que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais brasileiro (Inpe) começou a medir estes dados.

É esperado, ainda assim, que se alcancem pelo menos dois acordos globais: um relativo à criação de um fundo de financiamento para atender a emergências relativas às mudanças climáticas e outro para a conservação de bosques e selvas.





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