A Nova Diretiva de Relato Empresarial como espelho das estratégias de sustentabilidade das empresas

Por Marianne Richeux – Sustainability & Government Affairs Sr. Manager, Europe
A sustentabilidade é um tema que está cada vez mais presente no dia a dia, com indivíduos e empresas a assumir um compromisso crescente não apenas por responsabilidade social, mas também como uma estratégia essencial para garantir competitividade e resiliência a longo prazo.
Este compromisso vai ao encontro de iniciativas globais, tais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas e o Acordo de Paris, que estabelecem metas claras para a erradicação da pobreza, a proteção do planeta e a promoção de uma economia sustentável.
Porém, a Nova Diretiva sobre o Relato de Sustentabilidade Corporativa (CRSD), implementada pela União Europeia em dezembro de 2022, vem exigir uma divulgação transparente do impacto ambiental, social e de governança (ESG) das organizações, representando, assim, um momento de apresentação dos resultados concretos de estratégias que tem vindo a ser desenhadas ao longo dos anos mas que, em poucos casos, eram analisadas do ponto de vista do seu impacto real.
Em Portugal, de acordo com os dados da Informa D&B, apenas 9% das empresas têm uma avaliação ESG elevada. Este número revela um panorama ainda distante da excelência em práticas sustentáveis, refletindo os desafios significativos que as diversas áreas de uma organização enfrentam na adaptação às exigências ambientais, sociais e de governança.
Um dos setores diretamente impactado por esta mudança é o das cadeias de abastecimento.
Segundo um estudo de 2024 do Boston Consulting Group, feito em parceria com o Carbon Disclosure Project (CDP) e intitulado de “Scope 3 Upstream: Big challenges, simple remedies” apenas 15% das empresas definiram objetivos para mitigar as emissões decorrentes da cadeia de abastecimento, sendo que foram os setores da indústria transformadora, do retalho e dos materiais aqueles que geraram mais emissões na cadeia de abastecimento, contando com uma pegada 1,4 vezes superior ao total de CO2 emitido na União Europeia em 2022.
Este estudo evidencia que muitas empresas e as suas cadeias de abastecimento estão longe de conseguirem diminuir a pegada ecológica. Assim, através dos relatórios que a Nova Diretiva pressupõe que as organizações apresentem, esta realidade será colocada à vista de todos, revelando, também, as dificuldades no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável previstos na Agenda 2030.
Espera-se que a necessidade de reportar e mitigar emissões ao longo de toda a cadeia de valor faça crescer a pressão para as empresas para contornar estes dados, para serem mais eficientes e alinhadas com a Economia Circular, com a procura por práticas e parceiros que sejam apologistas de estratégias sustentáveis, como a redução do desperdício, a reutilização de materiais e a minimização das emissões de carbono.
Neste contexto, o pooling de paletes surge como um exemplo concreto de solução sustentável a adotar. Além de otimizar os fluxos logísticos e melhorar a eficiência operacional das empresas, a partilha e reutilização das paletes também permite que sejam reduzidos custos e desperdícios, o que, por sua vez, diminui significativamente a pegada de carbono associada à logística e transporte.
É também necessário olhar para a tecnologia como uma forte aliada na gestão dos processos de integração da sustentabilidade nas empresas. O investimento nesta área, nomeadamente em softwares capazes de recolher, analisar e integrar dados em relatórios financeiros, precisos e transparentes na informação, é crucial para as organizações, uma vez que lhes permite uma gestão integrada dos processos.
Com esta Nova Diretiva de Relato Empresarial de Sustentabilidade, as organizações que conseguirem comprovar, através dos seus relatórios, que as suas práticas são sustentáveis, terão uma vantagem competitiva significativa, conquistando clientes, especialmente os mais sensíveis para estas questões, e evitarão o pagamento de multas regulatórias, litígios e danos ambientais.
A Nova Diretiva de Relato Empresarial de Sustentabilidade pode ser vista como um catalizador da estratégia de sustentabilidade das empresas, impulsionando aquelas que já têm os seus objetivos bem definidos e pressionando as que não têm para uma adoção de práticas mais responsáveis.