“A paz é pré-condição para a resiliência dos sistemas agroalimentares”, avisa agência da ONU
Os conflitos são um dos principais impulsionadores das crises alimentares, pelo que é indispensável promover e manter a paz, responder às alterações climáticas e aumentar a resiliência alimentar em todo o mundo. O alerta é feito pelo diretor-geral da Organização de Alimentação e Agricultura (FAO), uma agência das Nações Unidas.
Discursando perante os ministros da agricultura do G20, que se reuniram esta semana na Indonésia, Qu Dongyu deixou claro que “os custos humanos, sociais e económicos dos conflitos são sempre imensos” e que “a paz é uma pré-condição para a resiliência dos sistemas agroalimentares nacional e internacionais”.
O responsável salienta que o aumento dos preços dos bens alimentares terá “implicações devastadoras” sobre a segurança alimentar à escala global, explicando que os consumidores e os agricultores estão a soçobrar, cada vez mais, sob o peso crescente dos custos dos alimentos.
Saudando a Iniciativa do Mar Negro como uma importante medida para permitir que os mercados internacionais possam voltar a receber cereais que estavam retidos nos portos da Ucrânia desde o início da guerra da Rússia, a 24 de fevereiro, Qu Dongyu não deixa de sublinhar que esse acordo precisa de ser forçado com medidas adicionais que permitam “melhorar o acesso dos países mais vulneráveis aos alimentos”.
“Precisamos de evitar que uma crise de acesso a bens alimentares se torne numa crise de disponibilidade de bens alimentares”, acautela o líder da FAO. Ele apontou que a organização propôs a criação de um Mecanismo de Financiamento de Importações de Alimentos para permitir que 62 países de baixos rendimentos, que são a casa de mais de 1,8 mil milhões de pessoas, possam responder às suas necessidades alimentares mais urgentes. Em contrapartida, essas nações terão de se comprometer com o desenvolvimento e implementação de sistemas agroalimentares mais sustentáveis nos seus próprios territórios.
A proposta está agora nas mãos do Fundo Monetário Internacional, e a sua aprovação permitirá, no curto prazo, dotar os sistemas atuais de maior resiliência.
Olhando para o futuro, a FAO argumenta que serão precisos mais investimentos em ciência e inovação, em infraestruturas e na redução da perda e desperdício de alimentos, bem como na implementação de sistema de monitorização e de alerta mais eficazes que permitam evitar quebras de produção agroalimentar.
E essa transformação deverá ter como principal pilar a inovação digital, defende Qu Dongyu, que afirma que as tecnologias digitais podem aumentar a eficiência, facilitar a inovação e tornar os mercados alimentares e agrícolas mais eficientes e inclusivos.