“A população sente-se abandonada”: Associação denuncia impactos das minas do Barroso e inação das autoridades
A associação ambientalista local Povo e Natureza do Barroso (PNB) alerta para uma situação “dramática” que decorre na aldeia de Caniçó, município de Montalegre, devido aos efeitos de atividades de prospeção mineira.
Em comunicado, alega que a empresa Minerália “se encontra a realizar operações de perfuração e sondagem para extração de Volfrâmio”, e que “os trabalhos de movimentação de terras e circulação de veículos pesados têm originado o levantamento de poeiras que põem em risco de exposição a população que vive na periferia desses terrenos, para além da poluição sonora e contaminação dos cursos de água públicos da envolvência”.
A PNB afirma que os terrenos onde decorrem as operações mineiras, na área da mina da Borralha (Montalegre), já haviam sido classificados como “muito poluídos por metais pesados” em 2015 num estudo realizado pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia.
No artigo, publicado na revista ‘Comunicações Geológicas’, os especialistas escrevem que, no que diz respeito às concentrações de metais pesados, “os solos circundantes à área mineira da Borralha apresentam teores superiores aos valores de referência de qualidade ambiental propostos para solos portugueses. No entanto, as concentrações de As, Cd, Cu, Mo, Pb e Zn obtidas nos solos colhidos mais próximo das instalações mineiras, apresentam teores bastante mais elevados que os colhidos na sua envolvente”.
E alertam que “a ingestão e a inalação de partículas finas oriundas desses materiais contendo, por exemplo, As e Cd (elementos não essenciais, cumulativos e não biodegradáveis) podem representar riscos cancerígenos para a saúde humana”.
A associação PNB alerta que “este problema agravou-se drasticamente nas últimas semanas em que as alterações dos métodos de perfuração originaram autênticas nuvens de poeiras finas que são arrastadas pelos ventos expondo as pessoas a partículas nocivas, contaminando culturas, ar e águas”. E lamenta a inação das autoridades competentes face às denúncias que foram já apresentadas por organizações ambientalistas da região.
Perante a falta de resposta, “a população local sente-se abandonada, desamparada e desesperada face a esta situação”, que a PNB considera “gravíssima e que está a ser completamente e deliberadamente ignorada pelas entidades que têm obrigação de actuar na proteção da População e do Ambiente”, avança em nota.
A área do Barroso, que abrange os concelhos de Montalegre e Boticas, tem sido o epicentro da contestação popular contra projetos de exploração de minerais, destacadamente o lítio, algo que os contestatários alertam ser uma ameaça para a saúde humana e ambiental da região, reconhecida como Património Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em 2018.
Ainda no passado mês de novembro, uma caravana antimineração percorreu os concelhos de Boticas e Montalegre para exigir “a suspensão e rescisão de todos os contratos de exploração mineira”, depois de a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ter emitido uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável à exploração de lítio nas minas de Covas do Barroso, mas condicionada à concretização de medidas de compensação e de mitigação.