Exame cardíaco em chimpanzé através de câmara digital pode ajudar a reduzir doenças cardiovasculares



Cientistas da Universidade da Austrália do Sul descobriram uma forma de medir à distância o ritmo cardíaco dos chimpanzés utilizando uma câmara digital e inteligência artificial. Espera-se que a técnica sem contacto ajude a detetar doenças cardíacas nesta espécie.

Uma experiência “inédita” a nível mundial para medir o ritmo cardíaco dos chimpanzés através de uma câmara digital “poderá ajudar a reduzir as doenças cardiovasculares dos grandes símios em cativeiro e fornecer informações valiosas sobre o desenvolvimento do seu cérebro desde tenra idade”, revela a University of South Australia (UniSA) em comunicado, divulgado pelo site “Scimex”.

Segundo a mesma fonte, utilizando uma técnica sem contacto para extrair sinais cardíacos dos chimpanzés, filmando movimentos subtis do seu rosto ou tórax e monitorizando a sua resposta emocional a diferentes estímulos, uma equipa de investigadores liderada pela University of South Australia (UniSA) “fez algumas descobertas surpreendentes”.

Os chimpanzés – os nossos parentes vivos mais próximos – “mostram respostas semelhantes às dos bebés humanos quando sentem medo, excitação ou alegria, fazendo com que o seu ritmo cardíaco aumente ou diminua”, explicam.

A sua reação a vídeos de cenas da natureza “é também a mesma que a dos humanos, relaxando-os e baixando significativamente o seu ritmo cardíaco, apesar de não estarem familiarizados com o ambiente”.

Ao monitorizar o seu ritmo cardíaco à distância, os investigadores estão confiantes de que “podem detetar sinais precoces de doença cardíaca nos chimpanzés – uma das principais causas de mortalidade nos grandes símios em cativeiro – e sinalizar estes animais ameaçados de extinção para tratamento”.

Para o estudo, foram filmados sete chimpanzés em cativeiro, a curta distância, no Centro de Investigação de Primatas Wolfgang Koehler, em Leipzig, na Alemanha. Os engenheiros da UniSA receberam as filmagens e utilizaram a inteligência artificial para determinar o ritmo cardíaco.

Segundo o engenheiro de deteção remota Javaan Chahl, professor da UniSA, “é a primeira vez que o ritmo cardíaco de um chimpanzé é registado por uma câmara digital, extraindo sinais cardíacos das suas tonalidades faciais através de algoritmos de processamento de imagem”.

Os investigadores “não só registaram o ritmo cardíaco dos chimpanzés utilizando a nova tecnologia, como também compararam a forma como o ritmo cardíaco dos macacos se alterava quando lhes eram mostrados vídeos de comportamentos agressivos entre chimpanzés de grupos diferentes, cenas de chimpanzés a comer e vídeos da natureza”.

“Alterações do ritmo cardíaco podem estar associadas a respostas emocionais, esforço mental, atenção e concentração”

O autor principal, Danyi Wang, estudante de doutoramento da UniSA, disse que o ritmo cardíaco dos macacos aumentou quando viram vídeos de chimpanzés a lutar e a alimentar-se e abrandou quando viram cenas da natureza.

“As alterações do ritmo cardíaco podem estar associadas a respostas emocionais, esforço mental, atenção e concentração”, afirma Danyi, acrescentando que “os bebés apresentam respostas emocionais no início do desenvolvimento, que podem ser observadas através de alterações fisiológicas que os ajudam a adaptar-se e a integrar-se no seu ambiente. Observámos o mesmo nos chimpanzés que monitorizámos”.

Para o autor, “as suas reações à observação de cenas da natureza podem ser uma resposta fisiológica inata ao mundo natural. Sabemos que quando os humanos passam algum tempo na natureza, ou veem estímulos relacionados com a natureza, isso tem um efeito calmante. Parece que a natureza tem o mesmo efeito nos chimpanzés, e isto pode estar profundamente enraizado na nossa história evolutiva”.

Uma vez que os primatas têm um ADN semelhante ao dos humanos, a monitorização das suas alterações fisiológicas “pode fornecer informações vitais sobre o desenvolvimento do seu pensamento, atenção, linguagem, aprendizagem, memória e perceção”, sublinha o comunicado.

Chahl considera que, tal como acontece com os bebés humanos, as medidas do ritmo cardíaco podem ser utilizadas para testar a memória de reconhecimento e, por conseguinte, ajudar a revelar os processos mentais em diferentes contextos. “Isto não só complementaria os esforços existentes para compreender a evolução da cognição, como também nos permitiria testar populações que, de outra forma, não se envolveriam em tarefas cognitivas, tais como primatas muito jovens ou não treinados”, explica.

O comunicado da University of South Australia (UniSA) esclarece que as doenças cardiovasculares “são muito comuns nos grandes símios em cativeiro, normalmente devido a alterações relacionadas com a idade, ao espessamento dos músculos do coração e à redução da elasticidade”. Ao monitorizar o seu coração, os investigadores “acreditam que serão capazes de detetar mais cedo ritmos cardíacos anormais e potenciais sinais de doença cardíaca”.

“A nossa técnica sem contacto abre novas vias para o estudo dos estados emocionais e cognitivos dos primatas e pode também melhorar consideravelmente a gestão da saúde de uma vasta gama de espécies animais”, conclui Javaan Chahl.





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