A sustentabilidade já não é opcional nas organizações. Lipor lançou o mote em conferência



A sustentabilidade é um dos temas mais ‘quentes’ do universo empresarial e industrial, e a sua importância é indiscutível para líderes, gestores e especialistas que se juntaram no passado dia 15 de setembro, na Casa da Música, no Porto, para a Conferência “A Importância da Sustentabilidade para a Criação de Valor nas Organizações”, organizada pela Lipor, em parceria com a Ordem dos Engenheiros – Região Norte (OERN).

“Sem sustentabilidade não existe crescimento nem criação de valor”. É assim que José Manuel Ribeiro, Presidente do Conselho de Administração da LIPOR, iniciou a sua intervenção, sublinhando que nada é mais prioritário do que a transição energética, travar as emissões poluentes, cumprir o acordo de Paris, atingir a sustentabilidade e garantir a sobrevivência climática.

José Manuel Ribeiro sublinhou que “é preciso acelerar”, e destacou os avanços da organização na redução das emissões de gases com efeito estufa (GEE) e delineou as metas e ambições para o futuro, onde a organização se compromete a reduzir as suas emissões em 50% até 2030, em comparação com os níveis de 2006, e almeja alcançar a neutralidade climática até 2045.

Já Bento Aires, Presidente da OERN, destacou que “discutir a importância da sustentabilidade na criação de valor das organizações é absolutamente fundamental”, e que temos que garantir que as novas gerações encarnem estes desafios de futuro.

O Presidente da OERN alertou ainda que o mercado tem falta de recursos qualificados, nomeadamente falta de engenheiros. “E muitos desafios são impossíveis se não houver esta robustez técnica”, assinalou, acrescentando que só conseguimos ter um futuro mais equilibrado e sustentável com mais e melhor engenharia.

BOM E DECENTE

Assunção Cristas, antiga Ministra da Agricultura, sócia responsável da Plataforma de Serviços Integrados ESG e co-responsável da área de Ambiente & Clima da Vieira de Almeida e professora associada na Nova School of Law, tomou a palavra numa intervenção que se focou na sustentabilidade, definindo como as suas três principais dimensões a económica, ambiental e social.

A especialista sublinhou que “falar de sustentabilidade é muito sério, tem muito que se lhe diga, não se pode usar a palavra de forma descuidada ou ligeira”, destacando que as empresas  podem fazer mais, tendo cuidado e atenção a alguns aspetos que não se traduzem de forma direta numa criação de lucro, mas muitas vezes na criação de valor que lhes darão condições para dar continuidade laboral.

Durante a sua intervenção, destaque para a análise que fez da diferenta entre uma empresa e ser boa e ser decente. Para Assunção Cristas, uma empresa ser boa é por cumprir as regras, no entanto, num passo mais adiante, uma empresa boa é aquela que tem um impacto bom e positivo com uma criação diferenciada de valor.

 

DESAFIOS

No painel seguinte, intitulado “Os desafios de sustentabilidade para a década 20-30”, João Cruz (BCSD Portugal) começou por destacar que as empresas estão a sentir como desafio real a questão do report de sustentabilidade, sublinhando a importância da qualificação dos recursos humanos.

Referiu ainda, com base num estudo da organização, que a grande maioria das empresas ainda está no início da jornada de sustentabilidade, mas que, apesar disto, há um interesse e há um caminho que já está a ser feito.“Sentimos que as PMEs estão a precisar de apoio para entender e saber como reportar”, sublinhou.

Já Teresa Themudo (GRACE), referiu que temos assistido a uma transformação na responsabilidade social corporativa, sublinhando a importância da formação, capacitação, e de um ‘call to action’ para fazer as empresas falar deste tema

“As empresas estão cada vez mais preocupadas em fazer do que dizer qual a sua ambição”, referiu na sua intervenção.

Ricardo Ferro (APEE), por sua vez, afirmou que “as empresa estão mais preocupadas em ser eficientes no seu processo produtivo”, mas que, no entanto, “há um conjunto de desafios enormes, há instrumentos que respondem melhor às exigências”, sendo que “o report é uma urgência”

Por último, Sílvia Machado (CIP) sublinhou que, na próxima década, a maior parte dos riscos estão relacionados com o ambiente e à escassez de recursos, destacando a “importância de promover a cooperação entre as empresas e o sistema cientifico e técnico”.

“As empresas estão assoberbadas de burocracias e de reports que são impossíveis de cumprir pelas PME… tentamos que as empresas estejam o mais informadas possíveis”, destacou.

TRANSIÇÃO

A conferência seguiu o programa com o tema “A Transição de paradigma rumo à jornada ESG”, onde Pedro Lago (Sonae MC), começou por destacar que “um número cada vez maior de consumidores considera importante muitos temas ligados à sustentabilidade, no entanto, têm muitas dúvidas, o que pode significar que estamos no início de algum ciclo de mudança”.

Para ele, “as empresas são os maiores catalisadores desta mudança, no entanto, a sustentabilidade é da responsabilidade de todos”

Graça Borges (Super Bock Group) explicou que “do lado dos consumidores é onde está o nosso maior desafio, porque há também muita desinformação. As marcas têm de ajudar no caminho de transparência, mas temos uma grande dificuldade que é a linguagem”. Neste sentido, está em cima da mesa o projeto de criar um movimento com empresas e associações para que se consiga um alinhamento na linguagem, principalmente quando a mensagem chega ao consumidor.

Qual o desafio que deixa às empresas? “Sejam resilientes, não procrastinar, arrancar o mais depressa possível focando-se no que é mais relevante para o seu negócio”.

Por sua vez, Pedro Couto (EDP), nomeou diversos projetos e programas desenvolvidos pela energética, desde parcerias com engenheiros para os ajudarem a modelar o que será o futuro para adaptarem as operações, até o envolvimento social que têm com as comunidades e os trabalhadores.

“O futuro é incontornável que a sustentabilidade vai estar no centro da agenda. Jovens, mantenham este rumo e este legado”, destacou.

Também Gonçalo Amorim (BGI) apresentou neste painel um conjunto de iniciativas desenvolvidas, que vão desde redes de polos de inovação digital, passando pela circularidade até à capacitação do setor agrícola.

 

TENDÊNCIAS

“Novas tendências na gestão da sustentabilidade”, diversos setores como a aviação, resíduos e universidades foi o tema que trouxe ao palco da Casa da Música mais especialistas.

Helena Gonçalves (Universidade Católica Portuguesa/Católica Porto Business School) começou por abordar os desafios para o futuro, nomeadamente questões como a passagem das parcerias para os ecossistemas ou de financiamento, destacando a importância da implementação de práticas consistentes.

“Há redes que conjugam várias universidades no ensino de sustentabilidade… e o desafio é passar de parcerias para um verdadeiro ecossistema”, destacou a especialista, sublinhando que não é possível pensar em sustentabilidade sem falar em ética, e que devemos promover a ética empresarial através da partilha de conhecimento.

Já no setor da aviação, Sofia Rocha (ANA Aeroportos) destacou que o Grupo VINCI quer até 2030 atingir o net zero, redução em 50% do consumo de água pelos passageiros, e garantir a utilização de 0% de fitossanitários nos espaços verdes dos aeroportos. “Grande parte destas metas estão prestes a ser atingidas ou já foram ultrapassadas”, sublinhou.

Sofia Rocha destacou que o aumento de tráfego traz mais pressão ambiental, e que deve haver um equilíbrio entre sustentabilidade e trabalho operacional. Identifica ainda como maior desafio o conseguir que os stakeholders se envolvam nesta estratégia de sustentabilidade.

Já Diana Nicolau (LIPOR) referiu que há um conjunto desafios das obrigatoriedades do sector, e que tudo aquilo que seja a ampliação e melhoramento de gestão dos resíduos é um desafio.

“O maior segredo é fazer com que a Lipor seja uma Lipor transformadora, mas também que crie impacto positivo para que possamos apresentar a empresas de uma forma regenerativa”, destacou a especialista.

 

FILANTROPIA

Inês Sequeira, CEO da Rede Capital Social, tomou a palavra no palco para falar de “Mudança pela Filantropia Estratégica”, onde referiu que existem algumas questões que não estão a ser abordadas, nomeadamente a promoção da cultura de filantropia. “Isto permite mudanças verdadeiramente sistémicas. Portugal é dos países da Europa que tem dos mais baixos níveis de filantropia, somos dos países da Europa que doa menos dinheiro e tem os mais baixos níveis de voluntariado”.

A especialista alerta para a importância de incentivar a utilização de recursos da rede para ajudar as organizações a ter mais impacto, e que devemos mudar a cultura de filantropia em Portugal, aumentar a literacia em filantropia e investimentos de impacto, dar suporte financeiro para projetos selecionados, bem como a criação de uma comunidade de apoio com rede de doadores, investidores, empresas e universidades.

 

FUTURO

Na sua reta final, voltamos ao início da conferência, onde os participantes foram convidados, através da app do evento, a selecionar uma palavra que, para eles, definisse a sustentabilidade.

A palavra mais escolhida pela maior parte dos participantes foi Futuro, seguida de outras como equilíbrio ou responsabilidade.

 





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