A verdade suja que assombra as embalagens da pêra
Numa altura em que há supermercados abertos quase 24 horas por dia e é possível comer morangos em Dezembro, desligámo-nos da realidade do mundo alimentar. As prateleiras dos supermercados estão sempre cheias e quase nunca reflectimos sobre a origem dos alimentos que compramos, como é que foram produzidos e porque é que estão embalados de determinada maneira.
Há peras que, por exemplo, costumam vir embrulhadas em papel e depositadas em caixas. Mas já alguma vez se questionou porque é que vêm embrulhadas em papel? Uma investigação recente conduzida pela Fast Co. Design revelou o complicado mundo do empacotamento e exportação das peras.
A longa e estranha história das peras embrulhadas em pedaços de papel começa com a natureza delicada da própria fruta. Este fruto tem uma casca muito fina e um caule longo. Sem o cuidado devido, as pêras colidem umas com as outras durante o transporte, acabando por ficar pisadas.
“As peras são vulneráveis a uma condição causada pela oxidação e chamada de queimadura superficial, que são as manchas castanhas que é possível observar na casca do fruto. Também são susceptíveis a fungos e ao mofo, que se tendem a espalhar rapidamente de umas peras para as outras”, indica Paul Lukas, da Fast Co. Design, citado pelo Inhabitat.
Com o intuito de manter o lucro, os produtores de pera descobriram que se embalarem os frutos existe uma maior protecção. No início do século XX, as peras começaram a ser embrulhadas em papel tratado com óleo alimentar. O óleo atrasava a oxidação do fruto e reduzia o aparecimento das manchas castanhas. Mas a indústria alimentar continuou a desenvolver-se e o óleo alimentar foi substituído por produtos mais controversos.
Actualmente, nos Estados Unidos, o papel que embrulha as peras contém um pesticida criado pela Monsanto, chamado etoxiquina, bem como carvão, que impede a propagação do mofo e fungos. O componente é proibido na Austrália e na Europa, mas permitido nos Estados Unidos.
Isto gera um conflito de interesses. Por um lado, o desperdício de comida nos países desenvolvidos parece estar fora de controlo, com os restaurantes e supermercados a deitarem fora restos de comida e comida própria para consumo só porque o aspecto dos alimentos não é o mais atractivo. A adição de produtos químicos aos alimentos e fruta é uma maneira de os preservar e reduzir o desperdício.
Por outro lado, existem os malefícios associados a esses químicos que não só prejudicam a saúde de quem os consome como de quem os administra nos alimentos. As peras, por exemplo, são maioritariamente embaladas por mulheres, que têm as mãos mais pequenas e a probabilidade de pisarem os frutos é menor. Contudo, estas trabalhadoras passam o dia expostas a químicos que, a longo prazo, proporcionam doenças.
Foto: S Baker / Creative Commons