Abandonar os combustíveis fósseis pelas renováveis até 2060 pode reforçar segurança energética de muitos países



Substituir os combustíveis fósseis por energias limpas até 2060 poderá reforçar a segurança energética e reduzir riscos comerciais para a maioria dos países, revela estudo.

O lítio, o níquel, o cobalto, o cobre e as terras raras estão entre os materiais mais procurados pelos países e empresas que querem assegurar matérias-primas para o fabrico de tecnologias energéticas que não emitem gases com efeito de estufa para a atmosfera. Ao contrário do que se passa com os combustíveis fósseis, os depósitos desses materiais estão mais fortemente concentrados em países do chamado “Sul Global”, pelo que a transição energética provocará um rearranjo das dinâmicas da geopolítica da energia, bem como do comércio global.

Embora se possa pensar que é perigoso o mundo trocar uma dependência por outra, um estudo publicado recentemente na revista ‘Nature Climate Change’ sugere que é melhor depender de materiais para tecnologias limpas do que dos combustíveis fósseis.

“A maior parte das pessoas está focada nas coisas novas que podem ser um problema e não está a considerar os benefícios de segurança da transição para lá dos combustíveis fósseis”, argumenta Steven Davis, da Universidade de Stanford (Estados Unidos da América, EUA) e um dos principais autores do artigo.

Em comunicado, o investigador diz que, para países com sistemas futuros de emissões neutras, trocar a dependência da importação de combustíveis fósseis pela dependência desses novos materiais “é, na verdade, uma vitória para a segurança energética”.

Para chegarem a essas conclusões, os investigadores analisaram as novas vulnerabilidades que os países do mundo terão de enfrentar em cenários de emissões cada vez mais baixas e compararam-nas com as que estão associadas à continuação da dependência dos combustíveis fósseis.

O trabalho revela que se todos os países mantiverem as suas atuais redes de parceiros, os riscos comerciais para a segurança energética cairão, em média, 19% num cenário de emissões neutras. Se, por outro lado, expandirem as suas redes comerciais para incluir todos os recursos (não só combustíveis fósseis, mas também materiais para tecnologias de energia limpa), os riscos comerciais caiem para metade.

Segundo a investigação, reduzir a necessidade de importação de matérias-primas virgens – quer seja produzindo tecnologia mais duradoura, impulsionando a reciclagem ou desenvolvendo designs que exijam menos materiais – é outra forma de os países pobres em minerais minimizarem os riscos comerciais, ao mesmo tempo que eliminam os combustíveis fósseis.

Os investigadores dizem que os riscos comerciais para a segurança energética podem ser reduzidos, em média, em 17% com a quadruplicação das atuais “diminutas taxas de reciclagem” de materiais críticos, como o lítio, o níquel e o índio.

A mensagem principal desta investigação, dizem os seus autores, é “evitar pôr todos os ovos no mesmo cesto”, diversificando ao máximo as fontes de materiais para garantir a segurança energética de um país.

“Se estivermos a importar uma grande fração do que precisamos, isso é uma vulnerabilidade. Se tudo vier de um único fornecedor, há um grande risco de que uma catástrofe natural ou um conflito geopolítico possa perturbar esse fornecimento”, avisa Davis.

“Em última análise, é encorajador o facto de os riscos comerciais da maioria dos países diminuírem em cenários de emissões líquidas nulas e de as maiores melhorias ocorrerem frequentemente nos países que reduzem mais drasticamente a sua dependência dos combustíveis fósseis”, salientam os autores.






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